terça-feira, 22 de maio de 2012

Teoria Comunista em Atenas II

O povo desejava coisas novas, depois do fim trágico da guerra do Peloponeso. Aspirava ardentemente uma transformação comunista da sociedade. Não temos nenhuma descrição da situação do povo, das camadas mais pobres da população de Atenas.
Em compensação, as melhores comédias de Arstófanes, que sem dúvida alguma são superiores às demais obras de seus contemporânos, foram conservadas por inteiro, até aos dias presentes. Não são apenas comédias.
Todos os poetas e comediógrafos desse período ridicularizaram as tendências revolucionárias.
E muitas vezes essas idéias são proliferadas como fossem idéias novas.
Aristófanes torna-se um mestre da sátira, do ridículo e da ironia fina.
A assembléia de mulheres e Plutão (escrita nos anos 393 e 388 a.C.).
As mulheres, depois de suportarem longos sofrimentos durante a guerra e, principalmente, em virtude das funestas consequências da catástrofe, resolvem substituir os homens e apoderam-se do governo.
Certa noite, saem furtivamente de casa, sem serem vistas pelos maridos. Vestem-se de homens e convocam uma assembléia, onde as oradoras propõem uma reforma radical do Estado.

"As mulheres - dizem elas - são mais econômicas que os homens. Podem, portanto, melhor que eles, conduzir o Estado pelo bom caminho".

Essa revolução feminina é encabeçada por Praxágora, mulher de Blepino.

"Praxágora: Peço que ouças com atenção. Não me interrompas até que eu terminei. Vê o meu plano. Oriento-me pelo seguinte princípio: todos devem ser iguais e usufruir da mesma forma os bens da terra. É preciso que não aconteça o que vemos hoje. É preciso evitar que uns sejam ricos e outros pobres; que uns tenham grandes extensões de terras e que outros não possuam sequer um canto para cavar as próprias sepulturas; que uns possuam 100 servos e outros não tenham um só. Tudo isso deve ser modificado. Nós queremos iguala as condições de vida dos homens.

Blepino: Como esperas realizar esse plano?

Praxágora: Em primeiro lugare, transformaremos o dinheiro, a terra e as riqueza em geral em propriedade coletiva de toda a sociedade, isto é, num fundo público pertencente a todos os homens. Depois da formação desse fundo público, como somos boas donas de casa, poderemos administrar os bens sociais de maneira a vestir, alimentar etc. a todos os homens.

Blepino: Sim. Acho justo o que dizes sobre a terra. Isso é evidentemente necessário. Ninguém pode negá-lo. Mas como farás para socializar o ouro e a prata?

Praxágora: Os bens de todos os cidadãos serão recolhidos ao Tesouro.

Blepino: Mas, se os ricos os esconderem? Não poderemos obrigá-los a entregar os bens, mesmo que jurem, pois sabemos com que facilidade eles fazem falsos juramentos e enganam o Estado. Não foi justamente graças à fraude e ao engano que conseguiram tão grandes fortunas?

Praxágora: Tens razão. Mas suas fortunas perderão todo o valor, poruqe a miséria desaparecerá. Os cidadãos poderão ter tudo que necessitarem. Mesmo sem dinheiro: nozes, castanhas, pão, roupa, vinho, flores, peixes etc. Cada qual poderá retirar tudo o que quiser dos armazéns públicos. Portanto, ninguém terá necessidade de acmular haveres. Por que motivos os ricos pensarão em guardar as riquezas que adquiriram por meios desonestos, se essas riquezas não terão mais valor?

Blepino: Não acredito que os indivíduos mais ricos, que são justamente os mais desonestos, sejam capazes de renunciar facilmente ao roubo e à patifaria.

Praxágora: Sem dúvida. Se o antigo regime continuasse a existir, era o que inevitavelmente iria acontecer. Mas, com o novo regime, por que motivo os homens pensarão em acumular riquezas, se todas as coisas serão postas à disposição de todas?

Blepino: Suponhamos que um homem queira conquistar uma mulher ou ter relações com uma prostituta. Deverá oferecer-lhes algum presente?

Praxágora: De modo algum! Porque todos os homens e todas as mulheres serão de todos e poderão livremente fazer o que quiserem. Não haverá casamentos nem restrições de qualquer natureza.

Blepino: E se vários homens desejarem a mesma mulher?

Praxágora:Uma mulher bonita poderá ter vários pretendentes. Mas, antes de conquistarem uma mulher bonita, os homesn terão de deitar-se com uma feia.

Blepino: Bem! Pelo que vejo, com esse sistema, as mulheres não correrão mais o risco de ficar virgens a vida inteira. Mas que farão os homens? Tudo leva a crer que as mulheres só darão atenções aos homens fisicamente favorecidos. E os feios, como poderão conseguir mulheres?

Praxágora: A vida amorosa das mulheres será regulamentada pelo Estado. As jovens e formosa serão obrigadas a deitar-se com os homens pequenos e feios. Só depois de favorecerem os homens qu a natureza fez infelizes poderão ter relaçoes com seus namorados. A protituição deixará de existir. As prostitutas serão destinadas aos escravos, a fimde que as melhores foças viris dos homens possam ser aproveitadas pels cidadãos...

Blepino: E como um homem poderá saber se é pai de uma criança?

Praxágora: Não haverá necessidade disso porque todas as crianças ficarão sob os cuidados da coletividade.

Blepino: E quem fará os trabalhos indispensáveis à vida da sociedade?

Praxágora: Esses trabalhos caberão aos escravos"

O diálogo prolonga-se ainda por mais tempo, sempre nesse mesmo tom. Praxágora descreve o Estado do futuro. Os cidadãos terão direito a tudo. Todos serão livres e independentes. Uma única empresa coletiva substituíra às diferentes empresas particulares. As desigualdades de classes serão suprimidas para sempre.
Nos locais onde atualmente funcionam os tribunais, ou são realizadas as eleições, o Estado criará restaurantes. Neles, cada cidadão encontrará alimentação abundante. As refeições em comum serão verdadeiras festas. Deposi de comer, os homens deixarão a mesa bem humorados, com coroas de flores. E, nas ruas, as mulheres e as jovens chamá-los-ão à suas casas para oferecer-lhes os seus encantos.

Aristófanes traça o quadro de um verdadeiro paraíso terrstre. Mas, evidentemente, procura cobrir de ridículo a nova organização.

Apresenta, logo depois, conflitos trgicômicos, que surgem no domínio da regulamentação estatal da vida amorosa dos cidadãos. Com esses argumentos é que procura demonstrar a impossilidade da existência do Estado do futuro.

Na Assembléia das mulheres, Aristófanes ridiculariza os sonhadores comunistas.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Teorias Comunistas em Atenas

Aristóteles como ante-comunista cita Faleas que propõe:
  1. na igualdade de todos os indivíduos em face da propriedade da terra:
  2. numa educação coletiva, por conta do Estado;
  3. na nacionalização do trabalho dos artesãos.
É preciso frisar que o comunismo dessa época considerava o trabalho uma maldição. Não visava, portanto, a instauração de um Estado baseado no trabalho, porque naquela época trabalho significava escravidão.
As forças mecânicas não eram ainda aplicadas à existentes pertenciam aos tipos mais primitivos e grosseiros. Os trabalhos pesados estavam a cargo dos escravos, sendo, por isso, considerados atividades indignas de homens livres.
Todos julgavam a política e a guerra como as únicas ocupações compatíveis com a situação social de cidadãos livres.

domingo, 20 de maio de 2012

Esparta - O Comunismo em Esparta

Esparta ( ou Lacedemônia, nome oficial do Estado espartano) surgiu cerca do século IX a. C., no vale formado pelo Rio Eurotas, fértil região da Lacônia, entre os Montes Taígeto e Parson, próximo ao litoral do Mar Egeu. Compreendia cinco aldeias, desprovidas de muralhas. Ao invadirem a Lacônia, os dórios destruíram as cidades dos aqueus - Amicleia, por exemplo -, por força de sua superioridade militar, pois conheciam o uso e a produção de arma de ferro.
Quase todos afirmam que Licurgo foi o primeiro legislador que a tradição apresenta como autor de uma revolução comunista.
Os espartamos referiam-se sempre a Licurgo, vendo nele um legislador culto, bondoso e desintessado, que levara a cabo uma grande reforma política e transformara completamente a ordem econômica, estabelecedo o regime comunista em bases sólidas.
"A segunda instituição de Licurgo, possivelmente a mais audaciosa de todas as suas instituições - diz Plutarco - foi a divisão das terras. Esparta estava sujeita a um regime de terríveis desiualdades. Enorme multidão de pobres era mantida pelo Estado. E, ao lado dessa miséria, reduzido número de famílias que viviam nababescamente, entregues à dissolução, ao orgulho, à inveja, à fraude e à dissipação. Afim de suprimir completamente esses males e muitos outros ainda mais graves, que existiam no seio do Estado, em consequência da riqueza e da pobreza, Licurgo conseguiu que os cidadãos pusesse as suas terras à disposição da coletividade. Os homens novamentedividiram as terras entte si e passaram à viver juntos, num regime deabsoluta igualdade e de completa comunidade de bens.
As terras da Lacônia foram divididas em 30 mil partes, cabendo à cada habitante uma parte. As terras das aproximidades foram divididas em 6 mil partes. Cada cidadão de Esparta recebeu o seu quinhão. Contam que, temos depois, Licurgo, passeando pelos campos, viu grande número de montes de trigo exatamente iguais ao lado uns do outros.
Rindo para os que o rodeavam, ele disse que a Lacônia parecia um campo repartido entre irmãos.
Licurgo quis, igualmente, suprimir os instrumentos agrícolas para eliminar todas as desigualdades possíveis. Mas a proposta não foi aceita. Começou abolindo todas as moedas de ouro e de prata, que foram substituída por outras de ferro. Essas moedas, embora muito grandes e pesadas, possuíam um valor insignificante. Depois que essa moeda foi posta em circulação, não houve mais crimes na Lacônia. De então por diante, ninguém mais quis roubar, enganar ou deixar-se corromper por uma coisa que, além de não ser possível esconder, não podia mais ser exibida.
O comércio e a navegação desapareceram completamente.
Todos os cidadãos foram obrigados a comer em comum. As crianças, mais tarde, participaram também das refeições coletivas, para se instruírem ouvindo as conversas dos adultos.
Procura-se também proteger a infância - diz Plutarco. Regulamentou-se o casamento e a procriação...Licurgo, antes de tudo, quis fortalecer fisicamente a mulher, habituando-a à corrida, à luta, ao laçamento do disco e do dardo. Para destruir o pudor e todos os sentimentos que enfraquecem a mulher, obrigou-a a aparecer inteiramente nua nos cortejo, ao lado dos homens. A nudez das donzelas não era evidentemente imoral nem indecente.
A finalidade da educação espartana era formar homens de ação e não complativos ou fracos...
Licurgo, por outro lado, introduziu em Esparta hábitos de tal natureza, que todo os membros da sociedade viviam fortemente unidos aos interesses coletivos, agrupando-se em torno do seu rei, como as abelhas de uma colméia; e esquecendo-se de si próprios para só viver para a pátria.
Justamente em virtude dessa organização interna, o Estado espartano aparece, aos olhos dos mais esclarecidos espíritos da Grécia antiga, como o único Estado bem constituído e firme, em meio da confusão em que se debatiam todos os Estados da Gécia.

sábado, 19 de maio de 2012

Os comunismo judeus: os essênios

O povo se manifestava contrário à existência da propriedade privada.
(...) Os essênios (os justos), que aparecem a partir do século 2° a.C., formando uma seita especial.
(...) Filon conta, com satisfação enorme, que na Palestina viviam 4 mil homens virtuosos, chamados sênios, que mravam em aldeias e evitavam as cidades. Fugiam à corrupção destas. Viviam da agricultura ou da pesca. Não entesouravam ouro ou prata, nem adquiriam terras para fins comerciais. Trabalhavam apenas para a obtenção dos recursos indispensáveis à própria subsistência. Não tinham a menor propriedade, porque não desejavam acumular riquezas. Na época, além daqueles que os reveses da sorte haviam tornado miseráveis, os essênios eram os únicos homens que não possuíam bens. Julgavam-se, porém, os mais ricos de todos os hoemns, porque, para eles, a ausência de privações e a tranquilidade de espírito eram os maiores tesouros da Terra. Entre os essênios, os artesãos nunca fabricaram flechas, lanças, espadas, couraças, armas ou engenhos guerreiros de qualquer espécie. Como desejavam evitar tudo o que pudesse despertar ambição e a cobiça, não se dedicavam ao comércio nem à navegação. Não possuíam escravos.
Todos os homens eram livres e trabalhavam para o bem-estar comum. Os essênios repeliam quaisquer forma de autoridade e de domínio, considerando-as impiedades, violações de uma lei natural. Guiavam-se por este princípio: se as mães dão à luz e nutrem todos os seus filhos do mesmo modo, os homens devem também viver como irmãos.
(...) Nenhuma ess~enio possuía uma casa própria, exclusivamente sua. Todos os membros da comunidade tinham direito às casas existentes. (...) Os armazéns, com todas as mercadorias, eram propriedade coletiva. As roupas, os alimentos, não eram considerados propriedade privada. Nenhum essênio guardava para si o que ganhava, mas depositava tudo numa caixa destinada a formas um patrimônio comum, que ficava à disposição de todos. Entre eles, os enfermos e os anciãos eram objeto dos maiores cuidados.
(...) O historiador José fala dos essênios com grande simpatia: "Desprezam a riqueza e vivem em comum, de maneira que devem ser admirados. Não há entre eles nenhum indivíduo situado acima dos demais por possuir riquezas. Uma lei obriga àquele que entra para a seita a entregar todos os haveres à coletividade. Não há miséria, luxo ou desperdício entre os essênios, precisamente porque os cabedais estão à disposição da comunidade. Os bens são propriedade comum de todos, num regime fraternal. Os membros da seita elegem os administradores da riqueza comum. E todos se dedicam exclusivamente ao bem-estar coletivo".

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Época que a Propriedade Privada era pecado...

Século 12 a.C., os hebreus, hordas nômades que viviam nos desertos do NOrte da Arábia e da parte oriental do Egito, penetraram no país de Canaã. Organizados em família e em tribos, de acordo com o parentesco, vieram, sob a direção de chefes, para conquistar novos territórios e neles se instalaram.
(...) A propriedade privada do solo era ainda absolutamente desconhecida dos hebreus. Não há mesmo, em hebreu, uma palavra para designar a propriedade. Existe apenas a palavra nachlah, que quer dizer "parte hereditária". A propriedade, em hebreu, chama-se baal, palavra que também significa o senhor, o marido ou o criador.
(...) O deus supremo dos hebreus, na ocasião em que invadem o país de Canaã, era Javé ou Jeová, deus do deserto, do calor tórrido, do fogo ardente e das tempestades.
(...) Baal, deus de Canaã, era um deus diferente.
(...) Aos olhos dos profetas (do deus Javé ou Jeová), o culto a Baal não era mais que um pretexto para os homens darem livre expansão à luxúria, copulando abundantemente.
(...) Canaã, já estava dividida em cidades, onde existiam o comércio e a indústria, e onde tudo já havia sido transformada em propriedade privada.
(...) O desenvolvimento econômico de Israel e a consequente divisão da sociedade em classes agravaram a crise, no decorrer da qual a nação de Javé adquiriu novas significações que implicavam uma verdadeira revolução no dominio da religião. A transformação do primitivo estado de coisas foi ainda precipitada pelas guerras, nas quais os hebreus lutaram ora para defender o país, ora para dilatar seus territórios.
(...) Os israelitas, após o esmagamento dos habitantes de Canaã, tornaram-se os senhores de todos os caminhos, através dos quais chegaram ate a costa. Desse modo, entraram em relações comerciais com os industriais navegantes fenícios.
(...) Baal se tornou o deus dos ricos e Javé continuou sendo o deus dos pobres.
(...) Vê-se pois, que a rivalidade entre Javé e Baal era apenas um reflexo, no domínio religioso, da luta de classes que aparece com a transformação econômica do país.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Palestina

 


É uma estreita faixa de terra, situada ao Sul da Fenícia. A Oeste, limita-se com o Mar Mediterrâneo; a leste, com o Deserto Arábico, e ao sul, com a Península do Sinai. É atravessada pelo Rio Jordão que, nascendo no Lago Tiberíades, divide o país em duas regiões, e vai desembarcar no Mar Morto.




                                                                 MAR MORTO

Na Palestina, existem cadeias de montanhas separadas por pequenos vales fertéis, e havia densas florestas de cedros, carvalhos, pilheiros e cipestre. A atividade econômica mais importante era o pastoreiro, mas também cultivavam a videira e a oliveira. Em época de seca, porém, havia escassez de alimentos para o gado e os pastores eram obrigados a ir para as montanhas.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

"Não terás outros deuses diante de Mim..."

A sociedade heraica

Quando verificamos que a maioria do povo que conhecemos tem um Deus único, e que a fé cristão é hegemonica podemos achar que sempre foi assim e sempre será....
Investigando a História percebemos que nem sempre foi assim houve um esforço enorme para tornar a religião monoteísta.
A frase que nos serve de título ilustra muito bem o esforço na direção de um povo
religião monoteísta. Segundo a Bíblia, teria sido proferida por Jedivá a Moisés, quando este conduzia o povo hebreu do Egito para a Palestina (Êxodo).
Quando estudamos a História dos hebreus, o que nos detem e faz pensar é exatamente esse ponto: quais as razões da sobrevivência e unidade desse povo em meio a tantas condições adversas através de sua História?
Quanto à unidade veio como necessidade de formar na cultura do grupo uma estrutura ideológica que servisse de base para suportar tantos reveses materiais.
Devido à situação de dispersão, alguns hebreus procuraram garantir base materiais para sua sobrevivência...Dedicando-se na maioria das vezes às atividades mercantis, muitos judeus conseguiram assumir posições econômicas, e até mesmo políticas, vantajosas, fazendo parte da elite dominante de diversos países.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sou o Rei da Lídia (770 a.C.)

Tenho ouro. Mas todos os reis o têm. O ouro do Egito até traz a marca do faraó a garantir o peso de cada lingote. Assim ganha-se tempo em cada troca, não é preciso estar sempre pesando o ouro, é só ver a marca e logo se fica sabendo o peso. Mas cada lingote pesa muito e porque muito pesa, muito vale. O que dificulta a troca de mercadorias de menor valor.
Na minha capital, Sardes, tenho grandes entrepostos. Mas não bastam entrepostos para atrair a Sardes os prósperos comerciantes das cidades gregas. Vou mandar refundir todo o meu ouro em pequenas peças de peso igual. E em cada peça vou mandar cunhar a minha marca e garantir o peso igual de todas elas. Ficam assim facilitadas as trocas de valor menor. E até os camponeses que nunca sonharam ter ouro, poderão trocar os seus produtos por ouro em vez de trocá-los por outros produtos. Para se ser rico, não será mais preciso ter muitas cabeças de gado. A riqueza em gado pode ser dizimada pela peste ou pela seca das pastagens. Mas não há peste para o ouro e as pequenas peças que vou mandar cunhar poderão circular rapidamente, de mão em mão, de um lado para o outro.
Se proceder assim, veremos se vêm ou não vêm a Sardes os prósperos comerciantes das cidades gregas... E vindo, quem masi enriquece sou eu, que mandarei cobrar imposto sobre todos...

Comentário
Os comerciantes gregos foram realmente atraídos a Sardes...
Eis o aparecimento da moeda, tal como a entendemos hoje: equivalente-geral que perde o valor de uso e ganha a qualidade de aferidor exclusivo do valor de troca de todas as outras mercadorias. Singular mercadorias é esta, à qual ninguém dá uso próprio, mas que todos ambicionam porque ela é o equivalente-geral do valor de troca de todas as outras.

obs.: Lídia, Reino da Antiguidade, localizado no que é hoje Irã e Iraque.
Sardes, capital do Reino da Lídia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

História cômica sobre um produto que serve como equivalente geral

O dinheiro ainda não foi inventado e um sol de primavera amanhece sobre Lisboa. Desço à beira do cais e tenho uma súbita vontade de comprar um peixinho para o almoço. Na mão direita levo três maços de cigarros e entro no mercado. Chego à banca do peixe e pergunto à mulher:
- Oi, Tia Maria, quanto está o peixe?
- Um litro de azeite por quilo de peixe.
- E por acaso não aceita também três maços de cigarros?
Desolada, a mulher me responde:
- Eu não fumo, meu senhor...
Como eu quero um quilo de peixe, trato de procurar o azeiteiro. Encontro-o num dos cantos do mercado e lhe pergunto:
- Quanto vale o litro de azeite, ó tio?
- Vale cinco quilos de batata o litro.
- O senhor não aceita três maços de cigarros por um litro?
- Também podia ser. Mas tabaco já tenho para mais de uma semana. Do que eu preciso agora é de batatas.
Como quero um quilo de peixe trato de procurar a moça das batatas. Ela é uma mulher muito bonita e lhe pergunto:
- Quanto vale a batata, ó minha flor?
- Vale um garrafão de vinho tinto por cinco quilos, ó simpático...
- E tu não tens namorado, ó rosto bonito?
- E o que é que isso interessa, ó meu boneco?
- É que se tivesses, arranjava-te um presente para ele: três maços de cigarros...
- Ó filho, também pode ser! Venham de lá os três maços e leva daí os cinco quilos de batatas.
Agarro as batatas e vou trocá-las por um litro de azeite. Agarro o azeite e corro para a banca do peixe.
- Oi, Tia Maria, já tenho aqui o azeite! Pese lá um quilo de peixe...
- Azeite? Eu já não preciso de azeite, meu senhor! Já tenho azeite para mais de um mês...Do que eu preciso agora é de queijo fresco. Um quilo de peixe por um quilo de queijo fresco. Um quilo de peixe por um quilo de queijo fresco, ó freguês!
Entretanto o mercado já estava fechando.
Fui para casa.
Durante toda a tarde fiquei olhando muito desconsolado para a garrafa de azeite e nem ao menos tinha um cigarro para espairecer.

Comentário
História cômica para evidenciar como a ausência de um equivalente-geral dificulta a troca de mercadorias. O equivalente-geral é também uma mercadoria. Nesta história se, por exemplo, o azeite funcionasse como equivalente-geral, quem fosse ao mercado trocava o que levava por azeite e depois trocava o azeite pelo que precisava. A não ser que precisasse apenas de azeite... O azeite, desta forma, para além de ser um produto com o seu específico valor de uso, seria ainda a moeda, a mercadoria ante a qual todas as outras exprimem os seus respectivos valores (de troca). O azeite, para além de poder continuar a regar o bacalhau com batatas, seria também o equivalente-geral, a moeda, o dinheiro. Mas como a moeda também é uma mercadoria, o seu próprio valor (de troca) também é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a produzir. Se nesta história o azeite funcionasse como moeda, podíamos organizar a seguinte lista dos preços que, neste dia, vigoravam no mercado:

1 maço de cigarros = 0,33 litro de azeite
1 quilo de peixe      = 1,0   litro de azeite
1 quilo de batatas   =  0,2   litro de azeite
1 garrafão de vinho=  1,0   litro de azeite

Podemos, pois, definir o preço de uma mercadoria como a expressão monetária do valor de troca dessa mercadoria.
Em cada época, cada sociedade teve os seus equivalentes-gerais. Foram sal, o chá, as peles, o gado, os cereais, etc. Com a revolução metalúrgica e o desenvolvimento do comércio internacional, os objetos metálicos começaram a ser usados como equivalentes-gerais. E depois, não mais os objetos mas os lingotes do próprio metal. Ora o metal que mais resiste ao desgaste e à oxidação é o ouro. O ouro é também facilmente divisível e os fragmentos podem ser facilmente refundidos. Além do mais, o seu valor é relativamente estável porque, em milênios, pouco se avançou na técnica da sua extração. Ou seja: pouco variou, em milênios, o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir um quilo de ouro. Há ainda a acrescentar que o ouro tem um peso específico elevado, o que permite que, num pequeno volume, se possa concentrar elevado valor de troca: circunstância que facilita o seu transporte a longas distâncias.
Por tudo isto, o ouro acabou por ser um equivalente-geral internacionalmente reconhecido.

domingo, 13 de maio de 2012

Sou um mestre ferreiro (Europa, ano 1.200)

Só faço ferraduras, ancinhos, sachos, foices, enxadas e charruas. O que recebo em troca já não está dando para viver. Dantes, por uma enxada, incluindo o ferro, recebia dez medidas de aveia ou uma braça de tecido de linho. Agora, pela mesma enxada, só consigo seis medidas de aveia. Trabalho cada vez mais e estou cada vez mais pobre. Não tenho terras e, se as tivesse, não saberia bem como trabalhá-las. Estou vendo que tenho mesmo de perder meio ano de trabalho para construir uma forja nova, daquelas que dão mais rendimento, como eu vi no burgo (cidade).

Comentário

É o artesão, o pequeno produto de mercadorias. Já não produz para uso próprio, mas para troca. Para ele, os produtos que produz não têm valor de uso, só têm valor de troca. E o valor de troca, também chamado apenas de valor, não depende só das horas do trabalho simples do ferreiro. Depende também das novas técnicas e do tempo médio de aprendizagem profissional. A esta qualificação profissional também se chama trabalho composto. Ou seja, o trabalho qualificado funciona como um múltiplo do trabalho simples; uma hora de trabalho de um mestre ferreiro vale, por exemplo, três horas de trabalho de um aprendiz de ferreiro. O valor das mercadorias passa assim a ser determinado,não mais pelo tempo de trabalho simples, mas pelo tempo de trabalho socialmente necessário para as produzir. A expressão "socialmente necessário" siginifica a quantidade de trabalho necessário dentro das condições médias de produtividade do trabalho de uma sociedade devidamente localizada no tempo e no espaço. Por isso é que o mestre ferreiro desta história, apesar de trabalhar cada vez mais, cada vez fica mais pobre porque, ainda, e contrariando uma tendência da sua época, não foi atualizando a sua técnica.

Estamos a entrar numa época em que a cooperação no trabalho começa a ser substituída por leis já independentes da vontade dos homens.

sábado, 12 de maio de 2012

Sou um servo da Gleba (ano 800)

Tenho as minhas terras mas, para poder tê-las, sou obrigado a trabalhar como diarista; a trabalhar três dias por semana nas terras do meu senhor. Para poder trabalhar melhor as minhas terras pedi ao mestre ferreiro que me fizesse duas enxadas novas e ele me disse que demorava um dia de trabalho para fazer as duas. Confirmei a encomenda. Para o ferro, dei-lhe 6 medidas de aveia. Na próxima semana tenho que ir trabalhar um dia nas terras do mestre ferreiro para compensá-lo do dia que vai perder com as duas enxadas. Estou vendo que um dia o mestre ferreiro, com tantos pedidos, deixará de cultivar pessoalmente as próprias terras.

Comentário
Assiste-se à troca rudimentar de produtos e serviços. Mas tanto o camponês, servo da gleba, como o ferreiro, como o senhor feudal, estão bem conscientes de que o valor de um produto mede-se pelo tempo de trabalho incorporado no produto.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sou um camponês da Mesopotâmia

Trabalho o ano. Lavrando as terras, preparando diques e barragens, como indica o meu senhor; fazendo as sementeiras, regando, colhendo. Mas cada grão dá cem, e o meu senhor é muito rico e dá-me ferramentas de ferro, relhas de ferro para a charrua que os bois puxam e eu conduzo. O meu senhor tem artistas no seu palácio que fazem cerâmicas, pinturas e esculturas e outros fazem música e versos. O meu senhor conversa muito com os sacerdotes e, pelos astros, sabe quando o tempo vai mudar. Tenho sorte em trabalhar para um senhor tão rico. Fui prisineiro de guerra e quando já esperava a morte o meu senhor me comprou. Tenho comida e até me deram mulher e a minha mulher já me deu dois filhos. Trabalhamos para comer e comemos para trabalhar. Realmente, temos sorte em trabalhar para um senhor tão rico, mas nós vivemos para o trabalho e ele vive do nosso trabalho.

Comentário
É o início da civilização: a irrigação e as técnicas meteorológicas fazendo ou promovendo a revolução da agricultura e criando condições para um excedente permanente de gêneros. É este excedente, este sobreproduto social que facilita a divisão da sociedade em classes: uma parte abandona o trabalho produtivo e passa a ter ócios à custa da outra parte, do trabalho da outra parte, escravos ou servos. É este permanente sobretudo social que facilita a fundação de impérios. Senhores e escravo! Escravos em cuja manutenção e reprodução os senhores vão investindo para que se mantenha sempre a classe de explorados, cuja existência é indispensável à classe dos exploradores.

Mas não é só negativa a função desta classe ociosa. Ela também promove o desenvolvimento de atividades socialmente necessárias, como as técnicas meteorológicas e de irrigação, as técnicas metalurgicas. Promove ainda o desenvolvimento das artes. No interesse próprio, esta classe ociosa vai promovendo o desenvolvimento de atividades humanas de que um dia toda a humanidade se beneficiará.

obs.: Mesopotâmia, região do Oriente Médio que fica entre o Rio Tigre e o Rio Eufrates, hoje corresponde ao Iraque.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sou um homem do Neolítico

Os homens da minha tribo caçam. As mulheres colhem frutos e fazem sementeiras. As mulheres são previdentes: em vez de comerem todos os grãos de cevada guardam alguns para semear. E também criam cabras e por isso tomamos leite todos os dias e quando a caça falta durante muito tempo, matamos cabritos e comemos. Diz a minha avó que a sua avó dizia que antes a nossa tribo passava fome. E porque já vai havendo comida para todos, já não é preciso que todos os homens saiam para a caça todos os dias. A maior parte do tempo, poruqe já estou ficando velho, fico fazendo machados e setas de pedra para os caçadores da nossa tribo. Outros preparam peles de cabra para vestirmos. O que todos produzem é de todos.

Comentário

É a revolução neolítica (pedra polida). Os homens deixam de estar inteiramente submetidos às forças cegas da natureza. Aprenderam já a controlar, pela agricultura e domesticação de animais, a produção de gêneros alimentícios. Passa a haver um ligeiro excedente de produção que facilita a divisão social do trabalho e a programação econômica, as quais, por sua vez, provocam novo aumento do excedente.

obs. Neolítico, período da Pré-história que vai de 10.000 A.C até 4.000 A.C. Também conhecido como da "Pedra Polida". Foi o período que o homem criou os instrumentos de trabalho e passou a desenvolver a agricultura.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sou um homem do Paleolítico

A minha tribo tenta caçar. As vezes consegue. Então fazemos uma festa e comemos. Empanturramos-nos para compensar a maior parte do tempo em passamos fome. Quando acabam as pedras lascadas e o porretes, fazemos outros. Ontem deixamos de matar um canguru porque as pedras e os porretes tinham acabado. Hoje começamos a lascar outras pedras e a fazer outros porretes. Depois vamos sair e caçar. Temos que caçar. Sempre temos que caçar. As mulheres recolhem alguns frutos e os homens caçam. Quando acabam os frutos e a caça, emigramos para outro território.

Comentário
Sociedade primitiva em que o produto era todo imediatamente consumido pela população esfomeada. Nunca havia excedentes de produção. Toda a atividade econômica resumia-se em conseguir alimentos. Se assim não fosse, a comunidade morreria de fome. Início de uma divisão de trabalho entre os sexos. Não há qualquer planejamento de atividade econômica. A carência, a falta permanente de gêneros levava a população a práticas cruéis, mas indispensáveis, como o infanticídio. Comunidade humana inteiramente ao sabor das forças naturais.

obs. Paleolítico, período da Pré-história do homem, também conhecida como da "Pedra Lascada", e que fi de 600.000 A.C. No final desse período se desenvolveu o Homo sapiens. O homem era nômade e vivia da coleta de alimentos, sem cultivá-los.

HISTÓRIA DE ECONOMIA - Fernando C. da Silva

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Reflexão sobre bibliografia

Diz-se que a infância é o tempo mais feliz da existência. Creio que não é sempre o caso. Poucos são aqueles cuja infância é feliz. A idealização da infância provida de tudo, e abundantemente, a infância sem nuvens, nas famílias hereditáriamente ricas e instruídas, toda carinho e brinquedos, fica na memória como uma clareira inundada de sol, à beira do caminho da vida. Os grandes senhores da literatura ou os plebeus que os cantaram, exageraram esta idéia da infância toda penetrada de espírito aristocrático. A imensa maioria, se olhar para trás, se aperceberá, ao contrário, sómente de uma infância sombria, mal alimentada, escravizada. A vida dá os seus golpes nos fracos, e quem será mais fraco do que as crianças?

Minha infância não conheceu fome nem frio. Quando nasci, a família dos meus pais possuía uma certa abastança. Mas era o bem estar rigoroso da gente que sai da indigência para se elevar e que não tem nenhuma vontade de parar a meio caminho. todos os músculos eram tendidos, todas as idéias dirigidas no sentido do trabalho e da acumulação. Neste gênero de existência, o lugar reservado às crianças era mais que modesto. Não conheciamos a necessidade, mas também não conhecemos tampouco as larguezas de vida, nem os seus carinhos. A infância não foi para mim uma clareira ensolarada como para uma minoria ínfima; também não foi a caverna da fome, dos maus tratos e dos insultos, como acontece à maioria. Foi uma infância cinzenta, numa família pequeno-burguesa, na aldeia, num canto perdido, onde a natureza é larga, mas os costumes, as opiniões, os interesses são estreitos, mesquinhos.

A atmosfera espiritual que envolveu os meus primeiros anos e ambientes em que decorreu depois minha vida consciente são dois mundos diferentes, separados um do outro não só por dezenas de anos e por grandes espaços, mas também pelas arestas de grandes acontecimentos e erosões interiores, menos notáveis, mas que não são menos consideráveis para o indivíduo. Quando esbocei pela primeira vez estas recordações, pareceu-me mais de uma vez que não descrevia minha infância, mas uma viagem de outrora para um pís logínquo. Tentei mesmo contar o que tinha vivido, falando de mim em terceira pessoa. Mas esta forma convencional cai muito fácilmente na mera literatura, e é isso que eu queria evitar antes de tudo.

Minha Vida - Leon Trotsky. 2ª edição. Paz e Terra - Tradução Lívio Xavier, 1879-1940.

Fotografia


Momento mágico, luz inesquecível que escapa do desenrolar casual das sucessões ordinárias, a revolução é assunto de imagem, mais que de conceito.

É claro que as fotografias não podem substituir a historiografia, mas elas captam o que nenhum texto escrito pode transmitir: certos rostos, certos gestos, certas situações, certos movimentos. A fotografia possibilita que se veja, de modo concreto, o que constitui o espírito único e singular de cada revolução. Alguns críticos negam o valor cognitivo das fotografias de acontecimentos.

Esse ponto de vista me parece bastante discutível. É verdade que a fotografia não pode substituir a narrativa histórica, mas isso não a impede de ser um instrumento insubstituível de conhecimento histórico, que torna visível aspecto da realidade que frequentemente escapam aos historiadores.

A contribuição específica da documentação fotográfica é posta em evidência, com muita perspicácia, pelo antropólogo e historiador Marc Augé: As fotos da imprensa ou agências (...) colocam a História no presente, restituindo-lhe, a imprevisibilidade. O indivíduo, o acontecimento, a anedota ocupam todo o seu espaço e isso não significa que a História não  tenha sua importância: uma das tarefas do Historiador, se deseja compreender uma época, é precisamente imaginar o presente dela, fazer o inventário de suas possibilidades, escapar da ilusão retrospectiva.
Afirmar a importância da fotografia para o conhecimento dos eventos revolucionários não implica que se trate de um documento puramente objetivo. Cada uma dessas imagens é ao mesmo tempo objetiva – como imagem do real – e profundamente subjetiva, pois traz, de um mod

domingo, 6 de maio de 2012

Decadência do capitalismo

A história das sociedades humanas, desde o comunismo primitivo até o capitalismo, constitui certamente um assunto dos mais apaixonantes na medida em que a sociedade futura se vier a existir, será um produto e também a ultrapassagem de todas as fases históricas anteriores e herdeira de toda a sua evolução, desde os primórdios, sobre todos os planos da vida social.

Ao contrário da idéia partilhada e propaganda por todos os defensores do capitalismo, este sistema não é eterno, não constitui a forma inultrapassável da organização econômica da sociedade. Tal como os modos de produção que o precederam, o capitalismo é somente uma etapa transitória dentro da sucessão dos modos de produção da história humana e, como seus predecessores, depois de uma fase de progresso, ele é condenado a confrontar-se com contradições insuperáveis, tornando necessária sua ultrapassagem.

Para o homem novo existir um dia, o da sociedade comunista libertada do reino da necessidade, será necessário que a classe revolucionária, o proletariado, seja capaz de derrubar o capitalismo. Isso só pode ser o produto de um ato consciente de vontade e de consciência da parte desta classe revolucionária, mas tem como precondição, que o capitalismo tenha deixado de constituir um sistema progressista para o desenvolvimento das forças produtivas. Será estamos hoje numa fase decadente do capitalismo? E desde quando? O estudo das fases de ascendência e de decadência que precederam o capitalismo nos ajuda evidentemente a responder a questão. O assunto desta apresentação que será concluída pela análise da fase atual do capitalismo é justamente de expor no âmbito marxista de análise a sucessão dos modos de produção.

A- Os fundamentos teóricos do materialismo histórico

  1. Como Marx o demonstrou, o movimento da História não pode ser entendido a partir das ideias que os homens têm de si mesmos, mas pelo estudo do que serve de base a estas ideias, os processos e as relações sociais pelos quais os homens produzem e reproduzem sua vida material, quer dizer "as relações de produção" ou a "estrutura econômica da sociedade".
  • "Na produção social da própria existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; estas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma super-estrutura jurídica e política e à qual corresppondem formas sociais determinadas de consciência." (Prefácio à introdução à contribuição para a crítica da economia política).

Assim, a consciência dos homens, da mesma maneira que as formas políticas, jurídicas, religiosas são produto das relações sociais de produto:

  • "O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e imtelectual. Não é a consciência dos homens que determina a realidade; ao contrário, é a realidade social que determina sua consciência." (Prefácio à introdução à contribuição para a crítica da economia política).

     2. As formações econômicas passam necessariamente por período de ascedência e por período de declínio ou de decadência:

"Em certa fase de seu desenvolvimento as forças produtivas da sociedade entram em contradição com as relações de produção existente, ou, o que não é mais que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais elas haviam desenvolvido até então. A transformação que se produziu na base econômica transforma mais ou menos lenta ou rapidamente toda a colossal superestrutura" (Prefácio à introdução à contribuição para a crítica da economia política).

     3. Entretanto, dizer de acordo com marxismo que "não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas ao contrário que é seu ser social que determina sua consciencia", isso não significa por essa razão que a consciencia dos homens seja só o reflexo passivo das relações de produção. Ela é ao contrário uma força material de transformação da sociedade, a História, mas dentro de um âmbito social dado. A necessidade material de uma mudança social se desenvolve com as forças produtivas, como um processoa objetivo independente da vontade dfos homens. Mas a própria mudança é obra dos homens e mais precisamente de uma classe social.

Assim, com Marx, deve-se distinguir dois "níveis" ligados, mais distintos:

  •  Por um lado, "a mudança material das condições de produção econômica";
  •  Por outro lado, a superestrutura, "as formas ideológicas, políticas, religiosas, artísticas, filosóficas, sumariamente as formas ideológicas" nas quais os homens tomam consciência do conflito entre esta mudança material e a superestrutura da sociedade, e "o levam até o fim".
       4. Em particular, as manifestações diferentes da decadência de uma sociedade podem ser resumidas num estado de crise generalizada atingindo o conjunto dos domínios e das estruturas da vida social:

  • Ao nível econômico (infra-estrutura da sociedade) a produção se choca de maneira crescente com obstáculos que não são outros que as próprias relações sociais de produção. A sociedade conhece crises econômicas cuja gravidade e alcance se amplia cada vez; ao nível da superestrutura; por conta da subsistência material ter constituído até agora o primeiro problema social em todas as sociedades, em última instância, sempre são relações de produção que determinam a forma e o conteúdo das diferentes estruturas sociais. Quando estas relações se desmoronam, arrastaram no seu movimento todo o edificio que lhes serve de sustentação. Quando esta espécie de estado de crise se desenvolve ao nível econômico, todos os outros domínios da vida social são obrigatoriamente atingidos.


sábado, 5 de maio de 2012

O Pensamento Único - Ignácio Ramonet

Aprisionados. Nas democracias atuais, mais e mais cidadãos livres se sentem aprisionados, dominados por uma espécie de doutrina viscosa que, insensivelmente, envolve todo raciocínio rebelde, o inibe, o pertuba, o paralisa e termina por o asfixiar. Esta doutrina é o pensamento único, que detem autorização exclusiva de uma opinião invisível e onipresente.

Depois da queda do muro de Berlim, do colapso dos regimes comunistas e da desmaterização do socialismo, a arrogância e a insolência deste novo Evangélio atingiram um tal grau que se pode, sem exagero, qualificar este furor ideológico de dogmatismo moderno.

O que é o pensamento único. A tradução em termos ideológicos com pretensão universal dos interesses de um conjunto de forças econômicas, em particular aquelas do capital internacional. Ela foi capital internacional. Ela foi, por assim dizer, formulada e definida em 1944, por ocasião de acordos de Bretton-Woods. Suas principais fontes são as grandes instituições econômicas e monetárias - Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Organização Mundial de Comércio, Comissão Européia, os bancos centrais, etc. - que, com seus financiamentos, arregimentam ao serviço de suas idéias, através de todo o planeta, numerosos centros de pesquisa, iniversidades, fundações, as quais, por sua vez, aprimoram e difundem a boa palavra.

Este discurso anônimo é retomado e reproduzido pelos principais orgãos de informação econômica, e principalmente pela "biblias" dos investidores e dos especuladores - The Wall Street, Financial Times, The Economist, Far Eastern Economic Reviw, les Echos, etc. - propriedades, frequentemente, de grandes grupos industriais ou financeiros. Por toda parte, faculdades de ciências econômicas, jornalistas, ensaistas, políticos enfim, retomam os principais mandamentos destas novas tábuas da lei e, através dos grandes meios de comunicação de massa, repetem-as até a saciedade. Compreendem corretamente que, em nossas sociedades midiáticas, a repetição vale como demonstração. 

O econômico se impõe


O primeiro princípio do pensamento único é tão forte que um marxista distraído não o renegaria: o econômico se impõe sobre o político. É baseando-se em tal princípio que, por exemplo, um instrumento tão importante nas mãos do executivo como é o Banco da França foi, sem oposição significativa, tornado independente em 1994e, de alguma forma, "colocado ao abrigo dos azares políticos". "O Banco da França é independente, apolítico e transpartidário", afirma seu governador, Jean Claude Trichet, que entretanto acrescenta: "Nos solicitamos a redução dos déficits públicos", e "prosseguiremos com uma estratégia monetária estável" (Le Monde, 17/12/1994). Como se esses dois objetivos não fossem políticos!


Em nome do "realismo" e do "pragmatismo" que Alain Minc formula da seguinte maneira: "O capitalismo não pode colapsar, é o estado natural da sociedade. A democracia não é o estado natural da sociedade. O mercado, sim." (Cambio 16. 5/12/1994) - a economia é colocada no lugar de comando. Uma economia desembaraçada do obstáculo do social, que caminha por sí, uma espécie de ganga patética cujo peso seria causa de regressão e de crise.

Ídolo


Os outros conceitos chaves do pensamento único são conhecidos: o mercado, ídolo cuja "mão invisível corrige as asperezas e as disfunções do capitalismo", e particularmente dos mercados financeiros, cujos "sinais orientam e determinam o movimento geral da economia"; a concorrência e a competividade, que "estimulam e dinamizam as empresas, conduzindo-as a uma permanente e benéfica modernização": o livre-comércio sem limites, "fator de desenvolvimento initerrupto do comércio, e portanto das sociedades"; a globalização tanto da produção manufatureira quanto dos fluxos financeiros; a divisão internacional do trabalho, que "modera as reivindicações sindicais e abaixa os custos salariais"; a moeda forte, "fator de estabilização"; a desregulamentação: a privatização; a liberalização, etc. Sempre menos Estado, uma arbitragem constante em favor dos rendimentos do capital em detrimento daquele do trabalho. E uma indiferença para com o custo ecológico.


Este catecismo é constante repetido em todas as mídias, por quase todos os políticos, tanto de direita como de esquerda - conhece-se a célebre resposta de Dominique Strauss-Kahn, ministro socialista da indústria, à questão "O que é que vai acontecer se a direita ganhar", ao que le afirma: "Nada. Sua política econômica nâo será muito diferente da nossa" (The Wall Street Journal Europe, 18/3/1993). Isso lhe confere uma tal força de intimidação que ela asfixia toda tentativa de reflexão livre e torna muito difícil a resistência contra este novo obscurantismo.


Chega-se quase a se considerar que os 17,4 milhões de desempregados europeus, o desastre urbano, a precarização geral, a corrupção, os bairros populares em chamas, a pilhagem ecológica, o retorno dos racismos, dos integralismos e dos extremismos religiosos e a maré de excluídos são simples miragens, alucinações culpáveis, muito discordantes neste melhor dos mundos que edifica, para nossa consciências anestesiadas, o pensamento único.


Ignacio Ramonet é o diretor do Le Monde Diplomatique. Este artigo é o editorial do número de janeiro de 1995.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Princípios do Comunismo - Friedrich Engels

  1. O que é o comunismo?
           O comunismo é a doutrina das condições de libertação do proletariado.
     
      2. O que é o proletariado?

           O proletariado é a classe social que obtém os seus meios de subsistência exclusivamente da venda do seu trabalho, sem se beneficiar de qualquer lucro extraído de qualquer capital. É a classe, cuja felicidade e dor, vida e morte, e cuja completa existência dependem da procura de trabalho, ou seja, dos períodos de crise e de prosperidade dos negócios, das flutuações de um concorrência desenfreada. Em poucas palavras, o proletariado, ou, a classe trabalhadora.

* Reproduzido de ENGELS, f. "Principes du communisme". In: Marx, K e ENGELS,F. Oeuvres choisies en trois volumes. Moscou, Ed. du Progrès, 1970,v.1,pp.82-99.(Traduzido por José Paulo Netto e Maria Filomena Viegas).
Os Princípios do comunismo, redigidos em novembro de 1847, só foram publicados em 1914, no Vorwãrts, órgão da socialdemocracia alemã. Originalmente, o texto era um projeto de programa para a Liga dos Comunistas; depois, é de supor que o material se tenha constituído numa das bases para a redação do Manifesto do Partido Comunista.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Falando do Comunismo...

Após a queda do socialismo do Leste europeu, a esquerda socialista mundial encontra dificuldades para estabelecer um ponto de referência onde consiga afirmar suas convicções de caráter revolucionário. Há uma apatia política nas organizações de classe.

Uma profunda crise estabeleceu-se no instrumento condutor dos processos revolucionários.

Precisamos esclarecer os objetivos que nos move em direção do comunismo que seria a continuação ou o salto do socialismo.

Ou seja o objetivos do comunismo:

  1. inicia pela definição do comunismo como doutrina da libertação do proletariado;
  2. tem que definir o que é proletariado;
  3. a definição de burguesia é fundamental;
  4. qual o papel da crise no capitalismo;
  5. o problema que é a livre concorrência e o direito à propriedade privada para a grande indústria;
  6. destruição da velha ordem social, "o Estado";
  7. o que seria sociedade de classe;
  8. e sociedade sem classe;
  9. é possível abolir a propriedade privada?
  10. como repensar o comunismo em uma fase mais avançada, no socialismo;
  11. diferença entre comunismo e socialista.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Essa é a história...

Mauro Luís Iasi na apresentação do livro "História do Socialismo e das lutas sociais" de Max Beer, logo no título ele coloca:

 "Nada deve aparecer impossível de ser mudado" e completa logo em seguida "o estudo da história é subversivo, é revolucionário, por que serve ao desmascaramento das ideologias, porque, ao se inserirem os contextos particulares em sua história, desvelamos sua pretensões de universidade".

Precisamos ir em busca dessa história, dessa descoberta que deve servir para mudar, para transformar.

Sabemos que muitas vezes a história serviu para justificar "o capitalismo" como coloca o Iasi. Precisamos desmistificar essa história que argumenta em favor do capitalismo.

A admiração por Mauro se desdobra quando coloca que "talvez possamos nos permitir acreditar que ainda o estamos escrevendo, com nossas próprias lutas, com nossos erros e nosso inconformismo revolucionário para que o socialismo seja mais que uma história, mas uma opção aberta ao futuro".

terça-feira, 1 de maio de 2012

Revoluções - Michael Lowy (org.)

A revolução é etimologicamente uma reviravolta: inverte as hierarquias sociais ou, recoloca no lugar um mundo que se encontra do avesso...
Por uma questão de coerência, escolhemos as revoluções "classicas", revoluções sociais de inspiração igualitária que visavam distribuir a terra e as riquezas, abolir as classes e entregar o poder aos trabalhadores:
  • Comuna de Paris;
  • Revolução Mexicana de 1910-1920;
  • as Revoluções Russas 1905 - 1917;
  • as Revoluções Alemã e Húngara de 1919;
  • Revolução e a guerra Civil Espanhola 1936 -1937;
  • Revolução Chinesa;
  • Revolução Cubana;
  • Revolução dos Cravos em Portugal 1974 -1975;
  • Revolução Nicaraguense 1978 - 1979;
  • Queda do Muro de Berlim 1989;
  • Sublevação zapatista de Chiapas 1994 - 1995.