terça-feira, 19 de junho de 2012

Função do trabalho


Você é um indivíduo, com características muito suas; apesar do seu potencial de inteligência e sensibilidade, você só se desenvolverá como ser humano, como pessoa, a partir dos padrões culturais de seu grupo. Esses padrões você assimilará num lento processo a que chamamos socialização, isto é, você terá de aprender o modo de vida do seu grupo.

Quando você traça um quadro do homem atual, vimos o quanto ele está desestruturado, perdido em meio a tudo que criou. A insegurança, o tédio, o vazio são os sentimentos mais comuns de nossa época.

Mas temos muitos avanços...

Ora, afinal de contas, o Homem não domina hoje uma tecnologia altamente desenvolvida, capaz de resolver todos os seus problemas?

Procure perceber o perigo dessas generalizações: o Homem está indo à Lua.

Mas que homem? Todos os homens estão indo a Lua? Ou apenas determinados homens...

O mesmo se dá quando pensamos em problemas mais sérios, como, por exemplo, os da alimentação e da alfabetização.

Quando observamos em alguns países ou até mesmo alguns estados, percebemos que o mais grave se relaciona com as diferenças de nível de vida, condições de nutrição e saúde.

Isso, é o mesmo que dizer que existe abundância, riqueza para alguns, e fome, miséria e analfabetismo para a grande maioria.

Logo, os progressos técnicos e científicos não são usufruídos por todos os homens, mas apenas por alguns privilegiados.

Agora, pensemos no processo de trabalho desenvolvido em nossa civilização.

A maioria das pessoas recebe um salário para realizar tarefas de que, na maioria das vezes, não percebe o sentido. Como ter prazer em um trabalho onde apenas se aperta um botão para que uma enorme prensa de metal dê uma cor, a qual não foi ele quem escolheu, a um tecido que talvez nunca veja pronto, e, caso o veja, talvez não o reconheça, pois passou ainda por outras máquinas, modificando-se muito até ficar pronto?

(...)

Hoje, apenas alguns homens se sentem donos do mundo. E são esses homens que determinam o que e como deve ser construído, segundo seus interesses econômicos.

Como, então, fazer isso? Como trabalhar com prazer?

Será que quanto indivíduo nos olhou ou quanto classe?




segunda-feira, 18 de junho de 2012

sobre greve




 “Na sua obscura condição de animal de trabalho, já não era amor o que a mísera desejava, era somente confiança no amparo da sua velhice quando de todo lhe falassem as forças para ganhar a vida. E contentava-se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo o dia, covarde e resignada, como seus pais que deixaram nascer e crescer no cativeiro. Escondia-se de todos, mesmo da gentalha do frege e da estalagem, envergonhada de si própria, amaldiçoando-se por ser quem era, triste de sentir-se a mancha negra, a indecorosa nódoa daquela prosperidade brilhantes e clara”.

Aluísio Azevedo,O cortiço





Durante muito tempo, o tema sobre greve de 1917 na cidade de São Paulo foi relegado ao segundo plano, seja porque era o começo da industrialização e pouco representava na economia nacional, ou mesmo porque não era interessante para o grande capital mostrar à imagem dos operários na cidade de São Paulo em luta.

Podemos perceber que há quase um século, os operários já lutavam para impor à burguesia suas reivindicações, ou seja, para serem respeitados e ter o reconhecimento do movimento operário como instância legítima, obrigando os patrões a negociar com os proletários e a considerá-los em suas decisões.

A luta dos proletários na Rússia que tomou vulto de Revolução Bolchevique em 1917 influenciou a classe operária brasileira de tal forma, que a greve geral de julho levou mais de 100 mil operários às ruas, levantando barricadas e trocando tiros contra a polícia até os patrões cederem as sua reivindicações.

O governo reagia com muita repressão, como hoje. Forças policiais eram enviadas às manifestações para dissolver o protesto, prendiam operários nas assembléias, reuniões e nas paralisações das fábricas, comércio, funcionalismo público.

As condições de miséria pelos baixos salários, as longas horas de trabalho, exploração de mulheres e crianças também levaram os operários ao levante de 1917.

Vamos começar um pouco antes, no final do século XIX. O café é nesse momento histórico, o produto de exportação com toda a atenção voltada para si, devido o valor alto no mercado internacional.  Jose de Sousa Martins afirma:



“Entre 1850 e 1930 o café foi o principal artigo de exportação da economia brasileira, associado em diferentes graus de importância e em diferentes momentos à exportação do açúcar e da borracha. Sendo ela uma economia agrária, de tipo colonial, foi o café, desse modo, a mercadoria principal e aquela que marcou fundo a organização social e política da sociedade brasileira, principalmente a sociedade do Sudeste do país – Rio de Janeiro e São Paulo – a que determinou acontecimentos social e politicamente fundamentais a extinção do tráfico negreiro, 1850, a libertação progressiva dos escravos negros e a abolição de escravatura, em 1888, a proclamação da República, em 1889, a industrialização, a partir dos anos 1880, e a Revolução de 1930, que pôs fim à hegemonia política dos grandes fazendeiros de café”.(Martins, 2010, p.116)



Os fazendeiros e donos de escravos não tinham interesse na extinção do tráfico negreiro. Mas a Inglaterra com interesse comercial tem um firme propósito de acabar com ele, e só reconhece a Independência do Brasil com a abolição dos escravos. Assim, a abolição acontece em 1888.

Os fazendeiros do café não podem depender de mão de obra escrava que caminha para o seu fim, então promovem uma política de imigração de trabalhadores estrangeiros que na maioria das vezes eram subsidiadas pelo governo do Estado. (Martins, 2010, p.117)

São Paulo tem um aumento extraordinário da sua população, que está com 165.468 habitantes em 1811 e passa a 2.282.279 em 1900. Devemos isso à imigração, trabalhadores vindos de todas as partes do mundo, chegando para trabalhar nas lavouras de café em São Paulo. (Monbeig, 1984, p.24)

Como já havia acontecido na vinda dos escravos para o Brasil, são Paulo se torna de novo o centro de excelência dos estrangeiros.

A produção de café se intensifica de 147.034 sacas em 1836 chega a 1906 a 15.000.000 de sacas ao ano. (Monbeig, 1984, p.25)

 E os fazendeiros do café de São Paulo vêem na República a oportunidade de chegar ao poder. Mas havia outros que buscavam interesses econômicos diferenciados, viam na questão agrária exportadora como um entrave ao desenvolvimento e apostavam na diversidade econômica. O ministro da Republica, Rui Barbosa, tentou acelerar essa política de industrialização promovendo o crédito para fomentar o comercio e a indústria (encilhamento). Isso se torna na prática é uma inflação. (Trevisan,2001, p.28)

Com base na questão econômica e social à cidade São Paulo em 1917 nesse inicio do século XX, São Paulo é uma cidade que esta passando por fortes transformações.

A greve geral de julho de 1917 em São Paulo refletiu em vários níveis: no maior número de greves da História brasileira, concentrado em poucos anos, até o fim da Segunda Guerra Mundial; na realização de algumas grandes manifestações de massa; no avanço da sindicalização; no surgimento de uma imprensa operária de maior amplitude; na modificação das expectativas na vida quotidiana, onde desenha a esperança de uma alteração revolucionária do sistema social ou pelo menos a tangível possibilidade de uma vida melhor.

Essa questão social de um quase esquecimento no final do século XIX se torna objeto de debate tanto no nível da sociedade civil como do Estado no início do século XX. Ecoando até o Parlamento, onde após a última década do século XIX, fora praticamente ignorado por mais de uma dezena de anos.

 A importância dos primeiros anos da formação da classe operária, que não é indiferente à história global do país.

Vem estimular o pensamento histórico, pois, procura fazer perceber que as conjunturas do passado causam efeitos para nosso futuro, afinal muitos perceberão que muitas pessoas que andam ao redor assim como muitos elementos considerados casuais na paisagem cotidiana (nesse caso, a fábrica) estiveram inseridos dentro de um complexo processo histórico que envolveu e ainda envolve a cidade de são Paulo.

A problemática proposta é que, a partir do tema, a greve geral de 1917, consiga analisar o fato da greve como acontecimento histórico originário pela situação trabalhista da época na cidade de São Paulo e ao mesmo tempo de que modo diferentes posicionamentos políticos originam.

Muitas perguntas poderão ser feitas a essa pesquisa: Industrialização no começo do século? A imigração e o seu papel na formação da classe trabalhadora na cidade de São Paulo? Houve política de embranquecimento? Qual o lugar do negro e do europeu na sociedade paulistana? Quais as condições de trabalho no início do século XX? Qual o papel da imprensa naquele período? Qual a relativização da dos discursos da Mídia?

            Era um momento histórico de grande envergadura para os operários do mundo inteiro. Estava acontecendo uma luta com sinais de vitória na Rússia chamada Revolução socialista. Isso com certeza refletiram nos operários da cidade de São Paulo e também em muitos estrangeiros oriundos de países europeus já industrializados com experiências de lutas, que contribuíram para esse movimento acontecer.

            Outro fator, é que a cidade crescia na industrialização, no comércio e o mercado de serviço, e junto à miséria, a violência e a crescente pobreza. Graças à grande riqueza proveniente da economia cafeeira, os grandes barões de café obtiveram o acúmulo de capital necessário para investir principalmente no progresso da cidade de São Paulo. Todo esse investimento em infra estrutura somado com baixos preços dos terrenos em determinados bairros como Mooca e Brás e também com a grande oferta de mão de obra barata dos imigrantes que aqui chegavam em altíssima quantidade, acabou facilitando assim a instalação de fábricas na cidade de São Paulo.

            A industrialização se desenvolve com a promoção do capital de café. As primeiras fábricas são as têxteis com a produção de algodão e o excesso de mão de obra estrangeira. Os filhos dos fazendeiros começam a vir estudar na cidade se tornando advogados, engenheiros, médicos, os fazendeiros trocam o campo pela cidade, nascem os casarões da Avenida Paulista. (Monbeig, 1984, p.143)

Todas essas transformações econômicas e sociais são influências das grandes agitações na Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Russia. (Monbeig, 1984, p. 96)

Além do café dá origem das fábricas com sua riqueza, também é o criador da



 “última das três grandes aristocracias do país, depois dos senhores de engenho e das grandes mineradores, os fazendeiros de café se tornaram a elite social brasileira. E em conseqüência (uma vez que o país já era livre e soberano) na política também. O grande papel que São Paulo foi conquistando no cenário político do Brasil, até chegar à sua liderança efetiva, se fez à custa do café, na vanguarda deste movimento de ascensão, e impulsionando-o, marcham os fazendeiros e seus interesses”. (Vangelista, 1991, pp.28e29)



A elite que é os fazendeiros donos das terras (latifundiário) que assume o poder econômico e o poder político. Representavam seus próprios interesses sem intermediários, “interprete da realidade das suas plantações” da sua região, da sua província. (Vangelista, 1991, p. 29)

Republica seria a esperança “do povo”, não da elite idealista e sonhadora, que já tinha dado seus primeiros passos para civilização ocidental made in França, esperança de liberdade igualdade e fraternidade espelhado na Revolução Francesa.

José Murilo em “Os Bestilizados” comenta que nos jornais da época afirmavam que a participação popular foi nula na Proclamação da República, dizia:“Republica, na voz de seus propagandistas mais radical, como Silva Jardim e Lopes Trovão, era apresentada como irrupção do povo na política, na melhor tradição da Revolução Francesa de 1789 a revolução adorada, como a chamava Silva Jardim”.  (Carvalho 2011, p.12)

Os jornais da época escreviam para os operários: “Saibamos ser operários e cidadãos de uma pátria livre”. Muitas tentativas para organizar os trabalhadores cidadãos. O cidadão era até etimologicamente, o habitante da cidade. (Carvalho 2011, p.12)

A participação popular, quer dizer participação do povo não existiu nem na Proclamação da Republica, nem nas eleições. Mas que participação popular, a elite e os intelectuais queriam? A participação comportada, sem grandes agitações. Os trabalhadores, o povo sendo aleijado da participação popular pelos meios legais, explode em revoltas, em greves. (Carvalho, 2011, p.70) 

Porque a participação através do voto era restrita. O imigrante que não tinha escolhido a cidadania brasileira ou a pessoa que era analfabeta ou era mulher não tinha o direito de votar. (Carvalho, 2011, p.84)

Quem exercia a cidadania pelo voto, quer dizer, que tinha o direito de votar era um eleitorado composto de funcionário público, que eram facilmente pressionados, votavam em quem os coronéis queriam. (Carvalho, 2011, p. 86)

Os representantes que deveriam representar o povo, representavam só eles mesmo. Como Vangelista coloca “os grandes proprietários de terra escolhem os candidatos e suas indicações são geralmente acatadas (...) eles governam o Brasil e o administram para seus interesses”. (Vangelista,1991,p.30)

A participação que havia, era explosões de revoltas como a Revolta das armas, Revolta contra vacina e outras. (Carvalho 2011, pp 71 e 72 )

Lopreato traz para nós em seu livro “O espírito da revolta” em um acontecimento que demonstrou que os “cidadão” de São Paulo não estavam passivos, não estavam apáticos de todo o conflito que sofreriam. (Lopreato, 2000, p.436)

Esse conflito aparece na explosão de uma greve geral de 1917 que começa em uma indústria e se torna uma greve geral em toda a capital de São Paulo, e se alastrando por todo o estado e adjacente. (Lopreato, 2000, p.)

Greve, diz respeito à negação de uma passividade de exploração do trabalho assalariado. Um basta ao massacre e humilhação do trabalhador, que foi desumanizado e coisificado pela industrialização. (Leite,1992)

A cessação do trabalho, enquanto forma de luta, que o termo “greve” passou a ser empregado, acontece com o surgimento da indústria. (Leite,1992)

Poderíamos como Trevisan questionar “mas o que isso? Indústria – Operário –Greve...de que “barulho” estamos falando? Apitos de fábrica?”(Trevisan, 2001, p.39)

O Brasil não era determinado pela exportação, com objetivo abastecer o mercado europeu com gêneros agrícolas de origem tropical? São Paulo como o carro chefe dessa produção de café?

Outra fase desse período é o começo da industrialização, as fábricas que são a expansão das manufaturas. E essas primeiras fábricas surgem em São Paulo, vários são os motivos dessa localidade.

Os trabalhadores da indústria já tinham experiência de vitórias e derrotas nos movimentos reivindicatórios desde começo do século. (Lopreato, 2000, p.216)

1791: Greve dos trabalhadores das oficinas das Casas de Armas (Rio de Janeiro);

1815: Greve dos pescadores (Recife);

1858: Greve dos gráficos (Rio de Janeiro);

1863: Greve dos ferroviários (Rio de Janeiro);

1877: Greve dos carregadores de Santos.(Giannotti,1988)

Havia vários jornais não ligados ao governo que contribuiu com o movimento fazendo propaganda das reivindicações da greve.

“A greve geral de 1917 representa,..., o marco histórico no processo de formação da classe operária como auto constituindo-se em seu enfrentamento concreto com o capital. A singularidade desse acontecimento histórico está na orientação e coordenação do movimento grevista pelos anarquistas, coadjuvados pelos socialistas. O exercício da tolerância ideológica possibilitou a ação conjunta de anarquistas sindicalistas, anarco comunista e socialistas e deu a unidade necessária para fazer das jornadas de julho um movimento vitorioso”. (Lopreato, 2000, p. 216)

Jacy Seixas, na apresentação do livro de Lopreato “O Espírito da Revolta – A Greve Geral Anarquista de 1917”, nos lembra que:

“O tratamento dispensado ao trabalhador livre europeu, que veio substituir o negro escravo nas fazendas de café, ainda guardava forte ranço escravocrata. Submetidos a uma exploração aviltante no trabalho e vivendo em precárias condições de vida, muitos desses imigrantes acabaram se rebelando contra, o patronato agrícola e retornaram aos seus países de origem. Outros deslocaram-se para a cidade de São Paulo onde ingressaram na ainda incipiente atividade industrial, constituindo a primeira geração de operários fabris”. (Lopreato, 2001, p. 216)

Batalha, nos alerta que não basta simplesmente o surgimento da indústria que automaticamente surgia à classe operária, ou seja, simplesmente com o trabalho assalariado precisava haver o confronto, o conflito do trabalhador com o patrão, para poder surgir a classe operária. (Batalha, p.163)

Outra teoria que Batalha questiona é o papel determinante dos imigrantes na organização da classe operária. Batalha argumenta que a construção da classe operária é lenta, porque é um processo onde vai aparecendo as contradições entre capital e trabalho e “é muito difícil avaliar o seu peso efetivo desta classe que está em movimento”. (Batalha, p. 166)

Por que as greves teriam se generalizado a partir de então?

·         Lutava por aumento salarial de 10 e 15% nas tabelas em vigor;

·         Abolição do desconto de 2% mensais em favor do Comitato Italiano Pro Pátria, um tributo de guerra imposto pelos industriais italianos aos seus trabalhadores.

·         Denunciaram o emprego de 200 crianças que, além de serem prejudicadas em sua instrução e na sua saúde, indiretamente ocupavam o lugar dos operários adultos.

No dia 5 de maio de 1917, no Bairro da Mooca 110 tecelões da seção de lanifício do Cotonifício Crespi, entraram em greve. “O Cotonifício Crespi empregava cerca de 2.000 trabalhadores. Era a fábrica de tecidos que dispunha do maior volume de capital entre os estabelecimentos congêneres. O crescimento da riqueza do industrial Crespi, no entanto, resultou para seus empregados na diminuição dos seus salários e na deterioração das condições de trabalho”. (Lopreato, 2000, p. 167)

Outras tecelagens entraram em greve, em junho aumentou o movimento de greves. (Lopreato, 2000, p. 175)

Os funcionários conquistaram os reajuste reivindicados. (Lopreato, 2000, p.109)

No dia 9 de junho, o Cotonifício Crespi voltava, a ser palco de agitações operárias. A greve deflagrada introduziu a polícia no cenário do conflito entre capital e trabalho. (Lopreato, 2000, p. 112)

Na teoria a polícia não tinha competência para intervir no conflito, mas na prática ela assumiu o papel “guardiã dos interesses dos industriais”. (Lopreato, 2000, p. 113)

As intimidações e as ameaças policiais, no entanto, não abalaram a convicção dos grevistas de permanecerem de braços cruzados”. (Lopreato,2000, p.116)

·         No dia 19 de junho, 4 operários presos;

·         Foram soltos;

·         Dia 22 de junho fechamento do Cotonifício Crespi;

·         Dia 24 de junho, no domingo, comício de solidariedade;

·         Dia 29 de junho, passeata de protesto 2.000 pessoas;

O movimento grevista foi se alastrando na primeira semana de julho. A cidade parou ficou sem pão, sem leite, sem gás, sem luz e sem transporte. Cem mil trabalhadores param por algum tempo as suas atividades. (Lopreato, 2000, p.46)

“As agitações operárias tomaram conta da cidade”. (Lopreato,2000, p.47)

São Paulo, 10 de julho de 1917. A greve tem sua primeira vítima Jose Ineguez Martinez, sapateiro espanhol, 21 anos, o confronto entre operário e polícia resultou em pessoas feridas e presas. Ainda foi registrado mais dois mortos oficiais, tem fontes diversas que alegam que houve mais vítimas fatais. O funeral reuniu 10 mil pessoas. (Lopreato, 2000, p. 29)

A greve irrompida em São Paulo repercutiu no interior do Estado e principais cidades do país. (Lopreato, 2000, p. 55)

Lopreato só confirma o que Batalha diz:

“São nesses processos que a classe como uma realidade história aparece, na medida em que os interesses coletivos se sobrepõem aos interesses individuais e corporativos. É então que podemos falar de formação de classe operária, não como resultado mecânico da existência da indústria ou da abolição da escravidão, mas como processo conflituoso, mercado por avanços e recuos, pelo fazer-se e pelo desfazer-se de classe que surge na organização na ação coletiva, em toda a manifestação que afirma sem caráter de classe”. (Batalha, p. 173)

BIBLIOGRAFIA:

LOPREATO, Christina Roquete. O espírito da Revolta a greve geral anarquista de 1917, São Paulo: Annablume, 2000.

MARTINS, José de Souza Martins. O cativeiro da terra, São Paulo: Contexto, 2010.

BATALHA, Cláudio H. M. Formação da Classe Operária e projetos de identidade coletiva, in: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.) – O Brasil Republicano – I: O Tempo do Liberalismo Excludente, RJ. Civilização Brasileira, 2003, pp 163-189.

CARVALHO, José Murilo de. Os Bestilizados o Rio de Janeiro e a republica que não foi, São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

GIANNOTTI, Vito. Reconstruindo nossa história, Rio de Janeiro, vozes, 1988.

MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo, São Paulo: Ed. Hucitec – Polis, 1984.

TREVISAN, Leonardo. A Republica Velha, 8ª Ed. São Paulo: Global, 2001. (História Popular, nº5)

VANGELISTA, Chiara.  Os braços da lavoura imigrantes e caipiras na formação do mercado de trabalho paulista (1850-1930), São Paulo: Ed. Hucitec, 1991.

DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo 1880-1945, SP: Difusão Européia do Livro, 1971

FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social, SP: Brasiliense, 1976

LOPREATO, Christina R. O espírito da revolta. A greve geral anarquista de 1917, SP:Annablume, 2000

PAMPLONA, Marco Antonio. A historiografia sobre o protesto popular e sua contribuição para o estudo das revoltas urbanas, RJ: PUC, 1991

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz.


domingo, 17 de junho de 2012

Como forma de sobrevivência e protesto cometia delitos


A maioria da historiografia documentada no sistema brasileiro nos meados do século XIX é das grandes plantações, não descreve a parte da escravidão vivenciada na cidade urbana ou semi-urbana de São Paulo. Misturavam escravos, forros, negros livres e brancos pobres que formavam um grupo ameaçavam a tranqüilidade da cidade.

Este trabalho mostra que os escravos na cidade urbana produziram muitas instituições como família, ritos religiosos e cultura material de um modo geral. E criaram também irmandade de pretos.

Como forma de sobrevivência e protesto cometia delitos, através desses foram feitas pesquisas entre os anos de 1850 e 1880. Os escravos ou negros livres eram testemunhas ou réus nos processos criminais. Nos documentos, ou seja, nos registros da justiça foi possível recuperar os modos de vida e forma de sobrevivência dos escravos.

A sociedade urbana precisa de mão de obra barata e os senhores de pequena posse passa a alugar seus escravos e colocar escravos de ganho na cidade urbana. Misturados escravos, negros livres, brancos pobres e negros fugidos dos arredores rural da cidade com esse contexto há uma desorganização nessa sociedade escravocrata. O poder dos senhores e do poder público não controlava por não distinguir quem era escravo e quem era negro livre e os forros.

Os senhores de pequenas posses alugava seus escravos e colocavam escravos de ganho que vendiam para seus senhores mercadoria no mercado. Os escravos, negros livres, forros disputavam o mesmo mercado de trabalho e para sua sobrevivência cometia pequenos delitos que podem ser vistos também como forma de resistência a situação escrava.

Os processos criminais retratam as diversas situações que se encontram o negro escravo e o livre perante a classe dominante. A análise mostra como era construída os valores, a violência, a valentia e a pequena posse e a pequena posse do escravo.

Mostra que essa realidade do negro, sua luta pela sobrevivência que traria sua liberdade como conseqüência não se consolida devido à chegada dos imigrantes europeus.

A ocupação dos mesmos espaços públicos e privados com escravos, negros livres e brancos pobres compõe a discriminação ética que sofremos até hoje.

Todo o estudo é pautado pelos crimes que são cometidos, por tanto devemos entender o conceito de crime. A historiadora para o entendimento do conceito cita de outros historiadores, esses fazem uma analogia com crimes e resistências.

Os crimes estudados se relacionam com uma luta pela sobrevivência dos escravos que eram castigados repetidos vezes, se manifestam em rebeliões, formavam quilombos e se suicidavam. Isso era uma demonstração de não aceitação da condição escrava de querer sua liberdade a qualquer preço.

Luiz Gama advogados dos escravos com sua frase máxima: “o escravo que mata seu senhor, sejam que circunstância que for, mata sempre em legitima defesa”.

Vários historiadores mostram avanços na historiografia como Marx e Engels (1871 – 1878); Hobsbawn (1981 -1982) que abordam o crime, rebelião, fugas são associadas a pobreza.

Há conflito entre o aparato legal e jurídico e as relações de poder como peças da dominação e os dominados com a resistência demonstrada na cultura e nas transgressões da propriedade privada.

Outros autores como Thompson (1987 – 1988) descreve a classe operária inglesa onde mostra uma resistência parecida feita pelos artesãos da época coloca como originou a Lei Negra (1974).

Os crimes cometidos pelos escravos estudados nesse trabalho demonstram que esses crimes estão ligados diretamente com as questões de dominação escravagista e da violência que acompanha esse regime. Tal contexto histórico traz sua gênese a dimensão da violência no trato com os escravos e as relações posteriores dos mesmos. Os escravos livres negros eram vistos como desordeiros, bêbados e criminosos pelos representantes da lei que tentavam mostrar um poder local da cidade urbana.

Aumenta sensivelmente as acusações e prisões de negros embora o número não crescesse consideravelmente mais o preconceito e a identidade dos escravos fugitivos vinham para cidade.

As relações sociais entre escravos e livres criavam suas próprias identidades, reinventadas cotidianamente. As cidades revelavam, escondiam e protegiam os escravos fugitivos também revelando um protesto individual ao sistema escravocrata.

Essas relações entre escravos e livres negros produziam uma cultura política original com formas de sobrevivência que escapa do controle da sociedade dominante.

O poder estatal na forma do poder judiciário avança no controle criando em 1874 o tribunal das Relações da Província, transferido da Corte para São Paulo.

O poder dos dominantes na forma do Estado começa cada vez mais interferir na relação senhor e escravos. Criam leis que possa impedir um levante, uma ressurreição generalizada e de falta de controle.

Essa documentação judiciária já muniu muitos historiadores para a elucidação da história referente a escravidão do final do século XIX e começo do XX.

Uma das leis foram o artigo 113º os negros livres e os escravos não podiam se reunir que eram enquadrados nesse artigo, “caracterizado o crime de insurreição”.

Todo processo aberto tinha que cumprir alguns tramites legais, primeiro seu registro, depois analisar a situação com depoimento dos réus que eram obrigados a ser ouvidos, portanto vistos como ser humano. Tinha que investigar seus comportamentos, modo de vida, valores e motivações para ter cometido tais crimes. Em segundo lugar o julgamento. Esse processo recebe atenção dos setores sociais que pensa em trabalho livre e outro tipo de organização social e econômica com outros interesses.

Os crimes pelos quais os negros escravos ou livres respondiam começa a ocupar lugar nessa sociedade. Essa sociedade tem que compor com escrivães, promotores, curadores e juízes. E se cria procedimento de reuniões que o Tribunal do Júri onde o crime tem que ser escrito como crime, julgado e punido. Por tanto, passa a ser visto e mais que isso registrado como ser humano fazer parte da sociedade porque até então ser vistos como coisas descartáveis.

Em alguns momentos a pesquisa mostra uma diminuição no registro das ocorrências judiciárias – criminais na comarca de São Paulo, referentes aos crimes praticados por escravos, não só diminuiu nesse período, como demonstram direções particulares. Houve acréscimo de roubos e furtos praticados por escravos. É justificado pela questão monetarista da cidade urbana. Percebe que são pequenas apropriação unicamente para a sobrevivência.

Houve um aumento de registro de crimes que caracterizava ataque de escravos a propriedade particular.

A fuga de escravos nesse período houve reduzido registros proporcionais. Homicídios e lesões corporais

Esses crimes estão inscritos na efetuação do mesmo ou em sua tentativa, as lesões corporais estão classificados como leve ou graves e os estupros. A classificação dos réus escravos e a relação social também.

Outra classificação é das vitimas primeiro os senhores, administradores e feitores, patrões aos quais os escravos prestavam serviços alugados ou como autônomos e as autoridades. O segundo agrupamento que são parceiros encontra-se brancos pobres, compadres ou colegas de trabalho e de lazer; e por fim o grupo dos iguais, negros livres ou libertos.

Esse estudo nos mostra que os crimes que as primeiras vitimam têm relação com a dominação e a violência nessa relação de escravos e senhores. O segundo grupo diz respeito às relações afetivas dos escravos que gerava conflitos. Isso mostra que a violência era muito presente nesse sistema escravocrata. E o terceiro era da ocupação espaço de trabalho.

Os roubos e furtos registravam desde valores significativos até objetos de uso pessoal percebemos que era furtado para sua sobrevivência.

O representante da sociedade escravista a policia e o judiciário precisava defender a propriedade privada para manutenção do sistema para a disciplina dos escravos. Neste movimento o legal e o ilegal se encontravam na recepção de produtos roubados ou seja, se confundiam.

Havia pouca diferença que aparecia durante os processos que separavam os escravos e os negros livres na tramitação dos processos julgados. Ate mesmo porque ocupavam os mesmo espaços sociais. Os livres negros viviam muito próximo dos escravos às vezes dividiam as moradias coletivas, compartilhavam relações de parentesco e disputavam as mesmas oportunidades de trabalho.

Trabalhavam juntamente com os escravos, os artesãos, vendedores ambulantes, operários da obras públicas da cidade e como trabalhadores braçais ou mestres. Esse estudo feito através do registro de crimes tem dificuldade de identificar os escravos ou negros livres devido a lei que dizia a cor de pele não podia descrever no processo, até os tempos da república. Mas em outras situações documentais se indicava o réu pelo seu local de nascimento no caso dos negros colocavam africanos. Quando o negro livre era liberto o seu ex-senhores tornavam seus tutores.

Alguns casos de crimes praticados por homens brancos. Devido aos interesses da sociedade abolicionista foi possível alguns negros denunciar seus senhores ou patrões. Além disso, havia advogados abolicionistas que se dispunha a lutar para defender os negros cativos ou livres. Outro conflito denunciado entre locatários e locadores de escravos de aluguel que muitas vezes ultrapassavam o limite de oralidade e passava a violência física contra o escravo de aluguel. Os escravos quando no mesmo espaço dos libertos não encontravam diferentes e se achava que estavam na mesma condição de libertos. Uma observação a ser feita é que o poder público começa a interferir nos assuntos particulares dos senhores. Os crimes para escravos, forros e negros livres tinham concepções particular diferentes de todo esse processo da classe dominante.

Sem modificar a sociedade escravista a condição social dos escravos foi transformada. A condição do escravo mudava quando seu espaço de vivência urbana dava “liberdade”, ele sai do controle dos senhores ou dos capatazes tinha que ter autonomia para realizar o trabalho e sobreviver na cidade. Como escravo de aluguel ou escravo de ganho o vivenciamento dos escravos nessa cidade urbana com formação social diferentes da vigilância de seus senhores e com atividades tão diferenciadas do meio rural interferiu na vida dos mesmos.

Os escravos e libertos desempenhavam todas as funções econômicas e sociais que a cidade urbana necessitava. “Como carregadores, trabalhadores nos portos e nas oficinas, lavandeiras, quitandeiras e domésticas, artesãos e negros livres transitavam com extrema agilidade pelas ruas das cidades”.

As ruas da cidade de São Paulo eram espaços sociais onde escravos e livres negros e brancos pobres faziam as mesmas atividades por isso mantinham relações sociais iguais, isso transformava a mentalidade escrava, o escravo começava a se sentir livre.

Essas mudanças mostram um quadro institucional que a escravidão se modificou nas cidades em relação ao controle social exercido sobre os escravos e das intervenções públicas nas relações escravagistas, e revela uma mobilidade social e ainda estruturas sociais informais.

O sistema de ganho e de aluguel traz para o sistema escravista vário componente interno à organização urbana. As relações entre senhores e escravos na cidade possibilitaram o processo de integração ou marginalização dos negros alforriados.

A mudança social significou muito para os escravos. “A intervenção do Estado regulamentando as relações escravagistas, controlando os excessos dos senhoriais, ainda favorecendo os escravos”. O reconhecimento do negro escravo como ser humano pela sociedade paulistana.

Nos processos de alforria mostra o custo do preço da liberdade. A promessa da carta de alforria comprava a obediência dos escravos de ganho, escravos de aluguel e assim cumpriam seu papel na cidade urbana.

A alforria era negociada com os escravos da cidade conforme diversos tipos de liberdades dando direito a liberdade para o escravo e lucro para seu patrão. O trabalho escravo era usado de outra maneira que não ao do cativo e das fazendas e sim os meios de sobrevivência da cidade pelo seu senhor que era de pequenas posses.

O trabalho na cidade urbana para o escravo possibilitava-o de ter acesso a serviços institucional da cidade e buscar a capacidade individual de sobreviver e a mobilidade “de ser livre”.

A cidade se mostrava um espaço urbano de transição de escravos para libertos, porque as relações escravas e livres negros e brancas pobres conviviam como assalariados e diaristas às vezes. As relações diversificadas levavam os limites entre a liberdade e a escravidão.

Mostrava a evidencia física que muitas vezes deixava confusa as relações sociais de trabalho, obrigando trabalhadores pagar multas por indisciplina trabalhista. Escravos eram remunerados como mineiros livres da mesma forma e eram multados por irregularidade da mesma forma e tinham liberdade para vender produtos como porcos, aves e ovos. (WISSENBACH, 2009) A posse de escravos em São Paulo

O movimento abolicionista e a falta de escravos fizeram os custos do escravo aumentar. Deixando de ser interessante para alguns senhores de poucos recursos a posse de escravos, que fez vendas e concessão de cartas alforria.

Houve significante mudança a partir dos anos 1870 nas relações sociais e econômicas na população da cidade de São Paulo onde a pequena e média posse de escravos manifestava-se em todo o tipo de atividade junto com negros livres e brancos pobres.

Desponta algumas produções de chá, fabricantes de chapéus, fabricantes de sinos e de bebidas disputando os empregados livres e escravos onde cada vez mais toma essa relação senhor e escravo fragil.

sábado, 16 de junho de 2012

É a região de economia mais dinâmica do país.


É a região de economia mais dinâmica do país, produzindo a maior parte do PIB. Nos setores agrário, industrial e de serviços, além de concentrar a maior parte da população. Apesar da maior dinamicidade, o centro-sul possui também as contradições típicas do desigual desenvolvimento sócio-econômico brasileiro.

Parte meridional da região centro-oeste

Área que possui uma população ainda reduzida e constitui, historicamente uma zona de expansão da economia paulista, o que explica a presença do maior rebanho bovino brasileiro.

Organização econômica - a principal atividade econômica do centro-oeste é a pecuária bovina extensiva que imprimiu a estrutura latifundiária desde a crise da mineração, no século xviii. Há também, extrativismo mineral e vegetal, sendo que agricultura ampliou-se com a abertura das fronteiras agrícolas de exportação. Este fato provocou intenso conflito pela terra, agravado pelo fluxo migracional. É uma região de fraca densidade, com luta pela terra.

Pecuária: goiás e pantanal (bovinos) - abastecimento dos frigoríficos do oeste paulista. A região sofre grandes alterações a partir da década de 70, com a expansão da fronteira agrícola e as pesquisas que viabilizaram o avanço da soja pelo cerrado, como por exemplo, o processo da calagem, adição de calcário ao solo. O enorme crescimento da agricultura na região vem determinando a necessidade de alternativas de transportes, como a hidrovia do rio madeira e a ferronorte.

Região sul - com uma superfície de 577.723 km2, a região sul compreende os estados do paraná, santa catarina e rio grande do sul, constituindo a única região brasileira não tropical.

O relevo do sul é formado em sua maior parte pelo planalto meridional, que apresenta três patamares limitados por escarpas: 

ao longo do litoral, ergue-se a primeira escarpa, de altitudes mais elevadas - a serra do mar, mais para interior, estende-se um planalto cristalino; a seguir a chamada "serrinha" forma uma nova escarpa é a serra geral, limite do planalto basáltico que se estende até o vale do rio paraná. No extremo sudoeste do rio grande do sul, desenvolve-se a campanha gaúcha, parte brasileira da vasta planície platina (o pampa). O clima do sul é subtropical úmido fatos que individualiza a região no conjunto brasileiro. A pluviosidade é bem uniforme, e as temperaturas médias são abaixo de 22oc, registrando-se as mínimas nas zonas mais elevadas onde ocorrem a neve ocasional. Na vegetação original do sul, predominavam as formações florestais: a mata atlântica, junto ao litoral; a floresta tropical, no norte do paraná; a floresta subtropical com pinheiros (mata de araucária).

O celeiro do país - a região sul possui, atualmente, uma economia agrícola altamente desenvolvida, que vem passando por um intenso processo de modernização, tornando-se uma atividade cada vez mais mecanizada e capitalizada. O norte do paraná, constitui a área agrícola mais desenvolvida do estado, com uma estrutura fundiária baseada em médias propriedades. Embora o café tivesse sido o principal produto da região, seu cultivo tem perdido o caráter monocultor, com a diversificação das lavouras comerciais (soja, trigo, arroz). O restante do estado tem uma produção agropecuária ampla e variada, além da exploração madeireira. Curitiba é a metrópole da região, com um parque industrial de certo vulto e com crescimento. O vale do itajaí, ao norte da encosta catarinense, é a zona mais dinâmica de santa catarina: vales profundos, caracterizam essa área de colonização italiana e alemã. Blumenau é o maior centro industrial da região. A zona serrana gaúcha é uma área de colonização alemã e italiana, apresentando uma estrutura fundiária calcada na pequena propriedade. À produção agrícola,  extremamente diversificada, vem se somar uma importante atividade pecuária, que alimenta uma próspera indústria frigorífica e de laticínios. Por isso mesmo, o setor agro-industrial foi o que mais cresceu no sul, no início da década de 90. No centro-sul gaúcho, destacam-se duas áreas: a região de porto alegre, metrópole que tem expressivo desenvolvimento industrial, a "campanha",  caracterizada pelos grandes estabelecimentos pastoris - as estâncias, onde predomina uma pecuária extensiva melhorada.

População
 - o processo de ocupação da região, inicia-se com o gado da campanha gaúcha. Oriundo de são vicente, este gado procura as pastagens naturais do sul, não ficando nas matas e serras da região. Imprime o latifúndio, ocupa, mas não estabelece grandes núcleos de povoamento, confundindo-se com as fronteiras castelhana. No litoral do rio grande houve, também, no período colonial, o povoamento com casais açorianos, indo até mais para o interior (depressão) e fundando porto alegre (guaíba). A mineração do século xvii gerou um povoamento com núcleo até laguna, pelo estreito litoral sul. Laguna era, em fins do século xvii, o ponto de apoio da ocupação brasileira no sul, visando a sacramento, no estuário do prata. No século xix chegam os imigrantes. Vão estabelecer-se nas matas e serras pouco valorizadas pela pecuária, e só usam a região como trânsito para a venda nas feiras e são paulo (exemplo sorocaba), para abastecer a área mineradora. Estes imigrantes vão: imprimir a pequena propriedade; desenvolver a agricultura associada à pecuária; desenvolver a agricultura de subsistência que dará origem à policultura; desenvolver a mão-de-obra familiar. Imigrantes alemães nos vales férteis; italianos nas encostas; eslavos no oeste e japoneses no norte do paraná, configuram o ciclo de povoamento. Hoje a região perde população para o centro-oeste, para a amazônia e até para fora do país. Fato determinado pelos seguintes aspectos:

• Divisão das propriedades pela herança 
• Minifúndios absorvidos por latifúndios com culturas de exportação, a exemplo da soja.

Economia - a existência de extensas áreas de pastagens naturais favoreceu o desenvolvimento da pecuária extensiva de corte na região sul, há o predomínio da grande propriedade e o regime de exploração direta, já que a grande criação é extensiva, exigindo poucos trabalhadores, o que explica o fato de haver uma população rural pouco numerosa na região. A agricultura, que é desenvolvida em áreas florestais, com predomínio da pequena propriedade e do trabalho familiar, foi iniciada pelos europeus, sobretudo alemães, que predominaram na colonização do sul. A policultura é a prática comum na região às vezes com caráter comercial, sendo o feijão, a mandioca, o milho, o arroz, a batata, a abóbora, a soja, o trigo, as hortaliças e as frutas os produtos mais cultivados. Em algumas áreas, a produção rural está voltada para a indústria, como a cultura da uva para a fabricação de vinhos, a de tabaco de óleos vegetais, a criação de frangos e porcos (associadas à produção de milho) para abastecer as usinas de leite e fábricas de laticínios. Diferente das regiões agrícolas "coloniais" é o norte do paraná, que está relacionado com a economia do sudeste, sendo uma área de transição entre são paulo e o sul. Seu povoamento está ligado à expansão da economia paulista. O extrativismo vegetal é uma atividade de grande importância no sul do país e o fato de a mata das araucárias ser bastante aberta e relativamente homogênea facilita a sua exportação. As espécies preferidas são o pinheiro-do-paraná, a imbuia e o cedro, aproveitados em serrarias ou fábricas de papel e celulose. A região sul é pobre em recursos minerais, devido à sua estrutura geológica. Lá há a ocorrência de cobre no rio grande do sul e chumbo no paraná, mas o principal produto é o carvão-de-pedra, cuja extração concentra-se em santa catarina. É utilizado em usinas termelétricas locais e na siderurgia (misturado ao importado). A região sul é a segunda mais industrializada do país, vindo logo após o sudeste. A principal característica da industrialização do sul é o fato de as atividades rurais comandarem a atividade industrial. Assim, somente as metrópoles de porto alegre e curitiba não se encaixam no esquema agro-industrial predominante na região. Porto alegre é o maior centro urbano-industrial, onde se localizam indústrias metalúrgicas, químicas, de couros, de bebidas, de produtos alimentícios e têxteis. Já a industrialização de curitiba, o segundo maior centro industrial, é mais recente, destacando-se suas metalúrgicas, madeireiras, fábricas de alimentos e do ramo automobilístico. As demais cidades industriais da região são geralmente mono-industriais ou então abrigam dois gêneros de indústrias, como caxias do sul (bebidas e metalurgia), pelotas (frigoríficos), lages (madeiras), londrina (alimentos), blumenau e joinville (indústria têxtil), estas duas localidades no vale do itajaí, a região mais próspera de santa catarina.

Sudeste 
- o sudeste é a região mais desenvolvida do brasil, registrando em relação ao conjunto do país, uma participação de cerca de 55% no produto interno bruto (pib), de 66% no valor da produção industrial, e concentrando 58% de pessoal ocupado na indústria. O processo de industrialização ocorrido no brasil a partir da década de 50, apoiado tanto na entrada maciça do capital estrangeiro, quanto na iniciativa privada nacional e na própria intervenção estatal, baseou-se no desenvolvimento dos setores mecânico, metalúrgico, químico, de material elétrico e de transportes, consolidando-se a região como centro da economia nacional. Desde então, aqueles setores industriais acusam participação crescente no sudeste, em detrimento das indústrias tradicionais (têxtil, alimentos e bebidas, que vêm-se registrando uma queda relativa). Essa tendência vêm-se afirmando no conjunto da região, embora o desenvolvimento das indústrias seja diferenciado ao nível dos estados. São paulo destaca-se no contexto nacional como o estado de maior concentração industrial, especialmente no tocante à indústria pesada. E o interior do estado já desponta hoje como o segundo mercado interno do país. Minas gerais constitui o segundo centro industrial do país, com uma participação de cerca de 10% no valor da produção nacional. Em linhas gerais, a região da grande são paulo abrange o maior parque industrial da américa latina, além de constituir o maior centro comercial e financeiro do país. A riqueza de recursos minerais esteve na base do grande desenvolvimento das indústrias siderúrgica e metalúrgica do estado de minas. A maior parte da produção brasileira de ferro ainda provém do "quadrilátero ferrífero de minas gerais", sendo o brasil um dos maiores produtores mundiais desse minério. O rio de janeiro apesar de estagnado na metade dos anos 90, vem crescendo na última metade através de um processo de "renúncia fiscal" e dos novos ramos privatizados, os da telecomunicação e da siderurgia. A economia do rio de janeiro porém, tem sua maior perspectiva no crescimento da indústria do petróleo (extração, construção naval, plataformas, óleos e gasodutos, pólo gásquímico e novas empresas que ganharam concessão de exploração). A produção de termeletricidade também tende a crescer em função de novos investimentos privados e estatais (angra ii). O problema do rio de janeiro é basicamente para consumo interno e necessariamente exige importação de alimentos e insumos agrícolas. Outro setor de crescimento é o turismo - "a venda do local" - hoje principalmente interna é a rede de escolas e universidades que atrai investimentos diretos.

Organização econômica - a importância histórica desta região data do desenvolvimento da atividade mineradora, quando o eixo econômico e político do país transferiu-se para o centro-sul. Após a mineração, o café, no século xix, valorizou também a área, tanto no vale do paraíba fluminense como no paulista, assim como, no século xx, este produto impulsiona o oeste de são paulo. Manteve, no entanto, a estrutura fundiária do latifúndio neocolonial exportador, sendo que no rio paraíba utilizou-se da mão-de-obra escrava negra. Na era vargas esta região encontrou sua vocação industrial. O capital do café e o esforço do estado vão transformá-la em um grande centro industrial, sobretudo, nas metrópoles nacionais de são paulo e rio de janeiro, e na regional de belo horizonte.

Urbana e industrial, esta região apresenta algumas características marcantes:

Agricultura - como produção elevada - cana-de-açúcar, café, soja, milho e arroz, utiliza-se, porém, da mão-de-obra temporária ou bóia-fria, mostrando aí seus graves contrastes sociais e espaciais: ao lado de uma agricultura moderna há estruturas arcaicas, como a questão social, técnica e política do vale do jequitinhonha e norte de minas gerais, por exemplo;

Pecuária 
- dinâmica, não só para o abastecimento da carne, como de leite e derivados. Destacam os rebanhos de minas gerais e são paulo. 
Concentração industrial - destacamos quatro espaços industriais importantes: são paulo, rio de janeiro, área do quadrilátero ferrífero e cidades médias do oeste paulista.

Extrativismo mineral - extração de ferro no quadrilátero de minas gerais, que destinado ao mercado externo (porto e usina de tubarão - e.f.vitória - minas).

Extração de petróleo - bacia de campos-macaé.

Crise social - nas metrópoles do sudeste, destacamos o grave problema da segregação espacial. Mesmo com a redução da migração, a favelização amplia-se, fato que constata o elevado processo de segregação do espaço geográfico, com a favelização e a formação de uma enorme periferia urbana.

Crise ambiental 
- desmatamento, retirada do mangue, poluição da baía de guanabara, deslizamento de encostas, problema do lixo, etc, são tônicas na vida da região. A industrialização e a exploração econômica acelerada, sem respeito ao meio ambiente e visando ao lucro imediato, seguindo modelos externos, são fatores geradores desta crise vivenciada pela mais dinâmica região do país.

Industrialização brasileira - histórico - 1a fase: 1822 a 1930 - período de reduzida atividade industrial, dado a característica agrário-exportadora do país. Nessa fase, no entanto, ocorrem dois fatos que facilitam a industrialização futura: a abolição da escravatura e a entrada de imigrantes, que vão servir e mão-de-obra.

2a fase: 1830 a 1956 - o ano de 1930 é considerado por alguns autores como o da "revolução industrial" no brasil. Efetivamente é o ano que marca o início da industrialização (processo através do qual a atividade industrial vai se tornar a mais importante do país) beneficiada pela crise de 1929 e pela revolução de 1930). A crise de 1929 determinou a decadência da cafeicultura e a transferência do capital para a indústria, o que associado a presença de mão-de-obra e mercado consumidor, vai justificar a concentração industrial no sudeste, especificamente em são paulo. Esta fase, assim como a primeira, tem uma característica inicial de quase exclusividade de indústrias de bens de consumo não duráveis, definindo o período chamado de "substituição de importações". No entanto, a ação do estado começa a alterar o quadro, com o governo vargas criando as empresas estatais do setor de base, como a csn (siderurgia), petrobrás e a cvrd (mineração).

3a fase: 1956 a 1989 - constitui o período de maior crescimento industrial do país em todos os tipos de indústria, tendo como base a aliança entre o capital estatal e o capital estrangeiro. O governo juscelino kubitschek dá início a chamada "internacionalização da economia", com a entrada de empresas transnacionais, notadamente do setor automotivo. O processo iniciado por j.k. Teve continuidade durante a ditadura militar (1964 a 1985), destacando-se o governo médici, período do "milagre brasileiro", que determinou crescimento econômico, mas também aumento da dívida externa e concentração de renda.
4a fase: 1989 a ... - esta fase iniciada no governo collor com continuidade até o governo fernando henrique marca o avanço do neoliberalismo no país, com sérias repercussões no setor secundário da economia.o modelo neoliberal adotado determinou a privatização de quase todas as empresas estatais, tanto no setor produtivo, como as siderúrgicas e a cvrd, quanto no setor da infra-estrutura e serviços, como o caso do sistema telebrás. Além disso, os últimos anos marcaram a abertura do mercado brasileiro, com expressivas reduções na alíquota de importação. Por outro lado, houve brutal aumento do desemprego, devido à falência de empresas e as inovações tecnológicas adotadas, com a utilização de máquinas e equipamentos industriais de última geração, necessários para aumentar a competitividade e resistir à concorrência internacional.

A concentração industrial no sudeste 
- a distribuição espacial da indústria brasileira, com acentuada concentração em são paulo, foi determinada pelo processo histórico, já que no momento do início da efetiva industrialização, o estado tinha, devido à cafeicultura, os principais fatores para instalação das indústrias, a saber: capital, mercado consumidor, mão-de-obra e transportes. Além disso, a atuação estatal através de diversos planos governamentais, como o plano de metas, acentuou esta concentração no sudeste, destacando novamente são paulo. A partir desse processo industrial e, respectiva concentração, o brasil, que não possuía um espaço geográfico nacional integrado, tendo uma estrutura de arquipélago econômico com várias áreas desarticuladas, passa a se integrar. Esta integração reflete nossa divisão inter-regional do trabalho, sendo tipicamente centro-periferia, ou seja, com a região sudeste polarizando as demais.

A descentralização industrial - atualmente, seguindo uma tendência mundial, o brasil vem passando por um processo de descentralização industrial, chamada por alguns autores de desindustrialização, que vem ocorrendo intra-regionalmente e também entre as regiões. Dentro da região sudeste há uma tendência de saída do abc paulista, buscando menores custos de produção do interior paulista, no vale do paraíba ao longo da rodovia fernão dias, que liga são paulo à belo horizonte. Estas áreas oferecem, além de incentivos fiscais, menores custos de mão-de-obra, transportes menos congestionados e por tratarem-se de cidades-médias, melhor qualidade de vida, o que é vital quando trata-se de tecnopólos. A desconcentração industrial entre as regiões vem determinando o crescimento de cidades-médias dotadas de boa infra-estrutura e com centros formadores de mão-de-obra qualificada, geralmente universidades. Além disso, percebe-se um movimento de indústrias tradicionais, de uso intensivo de mão-de-obra, como a de calçados e vestuários para o nordeste, atraídas sobretudo, pela mão-de-obra extremamente barata.
Autoria: Joaquim R. Ferreira da Silva