sexta-feira, 23 de março de 2012

Para fazer história o homem precisa estar vivo...

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Mas, para viver, precisa-se, antes de tudo de comida, bebida, moradia, vestimenta e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, pois, a produção dos meios para a satisfação dessas necessidades, a produção da própria vida material, e este é, sem dúvida, um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, assim como há milênios, tem de ser cumprida diariamete, a cada hora, simplesmente para manter os homens vivos. (Para fazer história).
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O segundo ponto é que a satisfação dessa primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades. (Por exemplo a produção de ferramentas).
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A terceira condição que já de início intervém no desenvolvimento histórico é que os homens, que renovam diariamente sua própria vida, começam a criar outros homens, a procriar - a relação entre homem e mulher, entre pais e filhos, a família. Essa família, que no início constitui a única relação social, torna-se mais tarde, quando necessidades aumentadas criam novas relações sociais e o crescimento da população gera novas necessidades, uma relação secundária ... e deve, portanto, ser tratada e desenvolvida... (Ex. quando a necessidade dessa família ultrapassa a sua produção, a família não supri suas necessidades, ela procura outras relações de troca, ou seja, compra e venda de produtos, e portanto se constitui outra relação social além da família).
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A produção da vida, tanto da própria, no trabalho, quanto da alheia, na procriação, aparece desde já como relação dupla - de um lado,como relação natural, de outro como relação social - , social no sentido de que por ela se entende a cooperação de vários indivíduos, sejam quais forem as condições, o modo e a finalidade. Segue-se daí que um determinado modo de produção ou uma determinada fase industrial estão sempre ligados a um determinado modo de cocoperação ou a uma determinada fase social - modo de cooperação que é, ele próprio, uma "força produtiva" -, que a soma das forças produtivs acessíveis ao homem condiciona o estado social e que, portanto, a 'história da humanidade" deve ser estudada e elaborada sempre em conexão com a história da industria e das trocas.
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Mostra-se, portanto, desde o princípio, uma conexão materialista dos homens entre si, conexão que depende das necessidades e do modo de produção e que é tão antiga quanto os próprios homens - uma conexão que assume sempre novas formas e que apresenta assim, uma "história", sem que precise existir qualquer absurdo político ou religioso que também mantenha os homens unidos.
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Desde o início, portanto, a consciência já é um produto social e continuará sendo enquanto existirem homens.
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A divisão do trabalho só se torna realmente divisão a partir do momento em que surge uma divisão entre trabalho material e [trabalho] espiritual ( ou seja, intelectual). A partir desse momento, a consciência pode realmente imaginar ser outra coisa diferente da consciência da práxis existente, representar algo realmente sem representar algo real - a partir de então, a consciência está em condições de emancipar-se do mundo e lançar-se à construção da teoria, da teologia, da filosofia, da moral etc. "puras". (Com a divisão do trabalho material, concreto, do trabalho intelectual das idéias um se afasta do outro ao ponto de se criar idéias que não condizem com a realidade, ou idéias que é de um grupo e se generaliza para a totalidade, ideologia).
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Com a divisão do trabalho, na qual todas essas contradiçõs estão dadas e que, por sua vez, se baseia na divisão natural do trabalho na família e na separação da sociedade em diversas famílias opostas umas às outras, estão dadas  ao mesmo tempo a distribuição e, mais precisamente, a distribuição desigual, tanto quantitativa quanto qualitativamente do trabalho e de seus produtos; portanto, está dada a propriedade, que já tem seu embrião, sua primeira forma, na família, onde a mulher e os filhos são escravos do homem. A escravidão na família, ainda latente e rústica, é a primeira propriedade, que aqui, diga-se de passagem, corresponde já à definição dos economistas modernos, segundo a qual a propriedade é o poder de dispor da força de trabalho alheia. Além do mais, divisão de trabalho e propriedade privada são expressões idênticas - numa é dito com relação à própria atividade aquilo que, noutra, é dito com relação ao produto da atividade.

a) é precisamente dessa contradição do interesse particular com o interesse coletivo que o interesse coletivo assume, como Estado, uma forma autônoma, separada dos reais interesses singulares e gerais e, ao mesmo tempo, como comunidade ilusória, mas sempre fundada sobre a base real dos laços existentes em cada conglomerado familiar e tribal, tais como os laços de sangue, a linguagem, a divisão do trabalho em escala ampliada e  demais interesses - e em especial, como desenvolveremos mais adiante, fundada sobre as classes já condicionadas pela divisão do trabalho, que se isolam em cada um desses aglomerados humanos e em meio aos quais há uma classe que domina todas as outras. Daí se segue que todas as lutas no interior do Estado, a luta entre democracia, aristocracia e monarquia, a luta pelo direito de voto etc. etc. , não são mais do que formas ilusórias da comunidade - em geral, a forma ilusória da comunidade - nas quais são travadas as lutas reais entre as diferentes classes ..., e, além disso, segue-se que toda classe que almeje à dominação, ainda que sua dominação, como é o caso do proletariado, exija a superação de toda a antiga forma de sociedade e asuperação da dominação em geral, deve primeiramente conquistar o poder político, para apresentar seu interesse como o interesse geral, o que ela no primeiro instante se vê obrigada a fazer. É justamente porque os indivíduos buscam apenas seu interesse particular, que para eles não guardam conexão com seu interesse coletivo, que este último é imposto a eles como um interesse que lhes é "estranho" e que deles "independe", por sua vez, como um interesse "geral" especial, peculliar; ou, então, os próprios indivíduos têm de mover-se em meio a essa discordância, como na democracia.

 Por outro lado, a luta prática desses interesses particulares, que se contrapõem constantemente e de modo real aos interesses coletivos ou ilusóriamente coletivos, também torna necessário a ingerência e a contenção práticas por meio do ilusório interesse "geral" como Estado.

Além disso, com a divisão do trabalho, dá-se ao mesmo tempo a contradição entre o interesse dos indivíduos ou da famílias singulares e o interesse coletivo de todos os indivíduos que se relacionam mutuamente; e, sem dúvida, esse interesse coletivo não exsite meramente na representação, como "interesse geral", mas, antes, na realidade, como dependência recíproca dos indivíduos entre os quais o trabalho está dividido. E, finalmente, a divisão do trabalho nos oferece de pronto o primeiro exemplo de que, enquanto os homens se encontram na sociedade natural e, portanto, enquanto há a separação entre interesse particular interesse comum, enquanto a atividade, por conseqüência, está dividida não de forma voluntária, mas de forma natural, a prórpia ação do homem torna-se um poder que lhe é estranho e que a ele é contraposto, um poder que subjuga o homem em vez de por este ser dominado. Logo que o trabalho começa a ser distribuído, cada um passa a ter um campo de atividade exclusivo e determinado, que lhe é imposto e ao qual não pode escapar; o indivíduo é caçador, pescador, pastor ou crítico, e assim deve permanecer se não quiser perder seis meio de vida - ao passo que, na sociedade comunista, onde cada um não tem um campo de atividade exclusivo, mas pode aperfeiçoar-se em todos os ramos que lhe agradam, a sociedade regula a produção geral e me confere, assim, a possibilidade de hoje fazer isto, amanhã aquilo, de caçar pela manhã, pescar à tarde, à noite dedicar-me à criação de gado, criticar após o jantar, exatamente com minha vontade, sem que eu jamais me torne caçador, pescador, pastor ou crítico.

O comunismo não é para nós um estado de coisas ... quew deve ser instaurado, um Ideal para o qual a realidade deverá se direcionar. Chamamos de comunismo o movimento real que supera o estado de coisas atual. As condições desse movimento ... resultam dos pressupostos atualmente existentes.
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O poder social, isto é,  a força de produção multiplicada que nasce da cooperação dos diversos indivíduos condicionados pela divisão do trabalho, aparece a esses indivíduos, porque a própria cooperação não é voluntária mas  "natural", não como seu próprio poder inificado, mas sim como uma potência "estranha", situada fora deles, sobre a qual não sabem de onde veio nem para onde vai, uma potência, portanto, que não podem mais controlar e que, pelo contrário, percorre agora uma seqüência particular de fases e tapas de desnvolvimento, independente do querer e do agir dos homens e que até mesmo dirige esse querer e esse agir.
Karl Marx - Friedrich Engels - A IDEOLOGIA ALEMÃ - Os parentes foram reflexões pessoais, os negritos também.

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