sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sou um camponês da Mesopotâmia

Trabalho o ano. Lavrando as terras, preparando diques e barragens, como indica o meu senhor; fazendo as sementeiras, regando, colhendo. Mas cada grão dá cem, e o meu senhor é muito rico e dá-me ferramentas de ferro, relhas de ferro para a charrua que os bois puxam e eu conduzo. O meu senhor tem artistas no seu palácio que fazem cerâmicas, pinturas e esculturas e outros fazem música e versos. O meu senhor conversa muito com os sacerdotes e, pelos astros, sabe quando o tempo vai mudar. Tenho sorte em trabalhar para um senhor tão rico. Fui prisineiro de guerra e quando já esperava a morte o meu senhor me comprou. Tenho comida e até me deram mulher e a minha mulher já me deu dois filhos. Trabalhamos para comer e comemos para trabalhar. Realmente, temos sorte em trabalhar para um senhor tão rico, mas nós vivemos para o trabalho e ele vive do nosso trabalho.

Comentário
É o início da civilização: a irrigação e as técnicas meteorológicas fazendo ou promovendo a revolução da agricultura e criando condições para um excedente permanente de gêneros. É este excedente, este sobreproduto social que facilita a divisão da sociedade em classes: uma parte abandona o trabalho produtivo e passa a ter ócios à custa da outra parte, do trabalho da outra parte, escravos ou servos. É este permanente sobretudo social que facilita a fundação de impérios. Senhores e escravo! Escravos em cuja manutenção e reprodução os senhores vão investindo para que se mantenha sempre a classe de explorados, cuja existência é indispensável à classe dos exploradores.

Mas não é só negativa a função desta classe ociosa. Ela também promove o desenvolvimento de atividades socialmente necessárias, como as técnicas meteorológicas e de irrigação, as técnicas metalurgicas. Promove ainda o desenvolvimento das artes. No interesse próprio, esta classe ociosa vai promovendo o desenvolvimento de atividades humanas de que um dia toda a humanidade se beneficiará.

obs.: Mesopotâmia, região do Oriente Médio que fica entre o Rio Tigre e o Rio Eufrates, hoje corresponde ao Iraque.

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