domingo, 13 de maio de 2012

Sou um mestre ferreiro (Europa, ano 1.200)

Só faço ferraduras, ancinhos, sachos, foices, enxadas e charruas. O que recebo em troca já não está dando para viver. Dantes, por uma enxada, incluindo o ferro, recebia dez medidas de aveia ou uma braça de tecido de linho. Agora, pela mesma enxada, só consigo seis medidas de aveia. Trabalho cada vez mais e estou cada vez mais pobre. Não tenho terras e, se as tivesse, não saberia bem como trabalhá-las. Estou vendo que tenho mesmo de perder meio ano de trabalho para construir uma forja nova, daquelas que dão mais rendimento, como eu vi no burgo (cidade).

Comentário

É o artesão, o pequeno produto de mercadorias. Já não produz para uso próprio, mas para troca. Para ele, os produtos que produz não têm valor de uso, só têm valor de troca. E o valor de troca, também chamado apenas de valor, não depende só das horas do trabalho simples do ferreiro. Depende também das novas técnicas e do tempo médio de aprendizagem profissional. A esta qualificação profissional também se chama trabalho composto. Ou seja, o trabalho qualificado funciona como um múltiplo do trabalho simples; uma hora de trabalho de um mestre ferreiro vale, por exemplo, três horas de trabalho de um aprendiz de ferreiro. O valor das mercadorias passa assim a ser determinado,não mais pelo tempo de trabalho simples, mas pelo tempo de trabalho socialmente necessário para as produzir. A expressão "socialmente necessário" siginifica a quantidade de trabalho necessário dentro das condições médias de produtividade do trabalho de uma sociedade devidamente localizada no tempo e no espaço. Por isso é que o mestre ferreiro desta história, apesar de trabalhar cada vez mais, cada vez fica mais pobre porque, ainda, e contrariando uma tendência da sua época, não foi atualizando a sua técnica.

Estamos a entrar numa época em que a cooperação no trabalho começa a ser substituída por leis já independentes da vontade dos homens.

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